Rússia aumenta a produção de petróleo e torna-se a número um do mundo

País superou a Arábia Saudita na produção do óleo em 2012



A produção total de petróleo da Rússia aumentou 1,3% de 2011 para 2012, alcançando pouco mais de 518 milhões de toneladas e levando o país ultrapassar a Arábia Saudita como maior produtor de petróleo do mundo. A quantidade do óleo bruto extraído cresceu 3,5%, ultrapassando 266 milhões de toneladas. O produto refinado, por sua vez, subiu 3,6%, atingindo mais de 265 milhões de toneladas.
As exportações de petróleo da Rússia, porém, caíram 1%, ficando em torno de 239 milhões de toneladas. Destas, cerca de 211,5 milhões foram vendidas para países fora da Comunidade de Estados Independentes (CEI). 
O aumento da produção russa de petróleo levou o país a superar a Arábia Saudita




Dilma e o destino



Por Mimo Carta - Carta Capital

A presidenta vai enfrentar um ano difícil, mas tem a oportunidade de uma mudança histórica para o  futuro do País. Foto: Alfredo Estrella/AFP
Há situações que me causam alguma perplexidade. Durante o governo Lula o empresariado queixava-se dos juros escorchantes, com exceção dos banqueiros, está claro. De sua alegria cuidava o presidente do BC, Henrique Meirelles. Em compensação, o vice-presidente da República, o inesquecível e digníssimo José Alencar, defendia com ardor a demanda dos seus pares.
Agora o governo Dilma abaixa os juros, e todos se queixam, em perfeito uníssono. Busco uma explicação, embora me tente recorrer a um dos grandes escritores do absurdo, movido pela convicção de que somente eles seriam capazes de explicar o Brasil. Este é um país que consegue viver contradições abissais, a começar pelo seguinte fato: atravessamos no mesmo instante épocas diferentes. A modernidade tecnológica e a Idade Média política e social.
No caso dos juros, os lances mais recentes do governo Dilma revelaram outro fato bastante significativo: muitos brasileiros que se dizem empresários são, de verdade, apenas e tão somente especuladores. Contaminados pelo vírus do neoliberalismo, acertaram sua irredutível preferência pela renda no confronto com a produção, e a baixa dos juros os atinge na parte mais sensível do corpo humano, ou seja, o bolso, como disse há muito tempo o professor Delfim Netto.
Seria preciso assumir o autêntico papel do empresário e, em vez de acompanhar os movimentos das bolsas e das oligarquias financeiras, trabalhar para produzir e enfrentar a concorrência e riscos variados como, creio eu, vaticinava Adam Smith. Os próprios banqueiros perdem benesses e têm de arregaçar as mangas para voltar às tarefas da Banca di San Giorgio.

O governo Dilma dá um passo adiante em relação àquele que o precedeu. Mexe com os interesses do poder real, conforme a opinião de analistas atilados. Ousa o que Lula não ousou. E o balanço da primeira metade do seu mandato há de registrar esse avanço em primeiro lugar.
É justo perguntar aos nossos botões por que um país tão favorecido pela natureza não atingiu o grau de desenvolvimento que lhe compete. E a resposta é inescapável: a casa-grande ficou de pé e conseguiu, sem maiores esforços, a bem da verdade, manter a Nação atada ao seu próprio tempo de prepotência. “Eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”, dizia Raymundo Faoro.
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Poder absoluto de um lado, submissão do outro. Getúlio Vargas, eleito democraticamente em 1950, tentou enfrentar a casa-grande e morreu suicidado. O novo desafio demorou 48 anos e começou com a eleição de Lula, início de um capítulo inédito da história, este por ora a mostrar-se duradouro. Como se deu com Getúlio, mas em circunstâncias diferentes, o povo identificou-se com seu líder. No entanto, ao contrário de Getúlio, Lula é seu povo, e chegou depois de uma ditadura de 21 anos imposta pela casa-grande e de uma fase da chamada “redemocratização”, na prática voltada à manutenção do poder real e dos seus privilégios medievais.
Dilma, nesses seus últimos dois anos de mandato, deu continuidade à obra do antecessor sem deixar de conferir marca pessoal ao desempenho. De saída, livrou-se de ministros incômodos, como o exorbitante “operador” Antonio Palocci, ou Nelson Jobim, atucanado militarista. Prosseguiu pelos caminhos traçados por Lula na política social e exterior e foi recebida mundo afora como digna sucessora do “cara”. Lança, enfim, as bases de uma política econômica afinada com os objetivos de um governo social-democrático habilitado à contemporaneidade do mundo.
Janus bifronte mostra o cenho franzido na face que encara o passado, enxerga um 2012 difícil, de desenvolvimento econômico medíocre, abalado por uma crise mundial muito antes que brasileira. Não está desanuviado o rosto que olha para o futuro. O ministro Mantega promete em 2013 um crescimento de 4%, ou pouco mais, índice excelente nas circunstâncias. Não me arrisco a analisar a promessa. As dificuldades para Dilma se espraiam bem além da situação econômica, a despeito das influências que esta exercerá em outros quadrantes.
A “Operação 2014”, desencadeada pela mídia contra Lula e contra o governo não arrefecerá certamente na perspectiva do pleito do ano próximo. De certa maneira, a campanha eleitoral já partiu e definiu seus temas recorrentes. Sim, os tempos mudaram e os porta-vozes do poder real não alcançam a maioria da Nação. Sobram, porém, os problemas criados dentro do PT, da base governista e até do governo. Semeados inclusive pelo Supremo Tribunal Federal, lunaticamente inclinado a subverter as regras basilares da democracia e a agredir a Constituição. Será que o ministro da Justiça tem mesmo de resignar-se diante de tanto descalabro?
Assustam, sejamos claros, um STF e um procurador-geral da República claramente engajados na Operação 2014. Para seu próprio bem, cabe ao governo uma reação à altura, também em outra frente, para reestruturar o Partido dos Trabalhadores, hoje dividido, depauperado e em estado de confusão. Neste campo, a intervenção do fundador é indispensável. Lula é o líder em condições de conduzir o partido no retorno ao passado, para reencontrar aquela agremiação que o sustentou por três eleições e enfim o levou à Presidência em 2002.
Quanto à base governista, os problemas parecem insolúveis. Governar exige alianças de ocasião e as melhores intenções acabam por lastrear o caminho do inferno. Há parceiros confiáveis e outros que veem na carreira política a escada da vantagem pessoal. Há quem sugira uma ação para buscar o favor do empresariado. Talvez aqui a tarefa seja menos complicada do que a tentativa de formular planos comuns com, digamos, o PMDB do vice-presidente Michel Temer e do senador José Sarney, ou com o PDT de Miro Teixeira e outros do mesmo jaez.
Permito-me, de todo modo, como se daria a aproximação ao empresariado descontente com a política econômica. Por meio de um seminário sobre o capitalismo de Adam Smith e John Maynard Keynes? Mesmo assim, tentativas menos ingênuas poderiam ser experimentadas, com algum êxito, quem sabe.
Pego-me a olhar para os colegas da redação, dobrados sobre seus computadores, intérpretes da modernidade, enquanto eu batuco na minha -Olivetti Linea 88. Sou francamente arcaico, mas temo que o computador me engula como fez e faz com tantos outros. Não escapo à sina, também eu mereço Ionesco, ou Beckett. Certo é, sem qualquer parentesco com o absurdo, que às vezes o bonde da história passa pela porta de casa. Não da minha, é óbvio. Falo de Dilma Rousseff. Sinto nela a crença, a energia, a determinação, a capacidade e o porte dos escolhidos do destino.

Presidente sírio propõe diálogo nacional para encerrar conflito


Por Carta Capital


Assad lamentou ainda não ter encontrado um parceiro para achar uma solução política para o conflito. Foto: AFP
O presidente sírio, Bashar al-Assad, pediu neste domingo 6 um diálogo nacional para colocar fim ao conflito que atinge o país há 21 meses, proposta rejeitada imediatamente pela oposição, e acrescentou que não discutirá com aqueles que pegaram em armas contra o regime, durante um discurso transmitido pela rede de TV oficial.
Em seu primeiro discurso público em sete meses, o presidente sírio afirmou que o conflito, que, segundo a ONU, deixou mais de 60.000 mortos, não é travado “entre o poder e a oposição, mas entre a pátria e seus inimigos, o povo e seus assassinos”, acrescentando que alguns deles querem a divisão da Síria.
Assad, cujo mandato termina em 2014, afirmou que os países ocidentais “fecharam todas as portas para o diálogo”, e rejeitou a ideia de deixar o poder, dizendo que qualquer transição deve ser realizada “de acordo com os termos da Constituição”, em referência a eleições.
Neste sábado, o jornal libanês pró-sírio Al-Akhbar afirmou que Assad apresentaria um plano de saída do conflito no qual estipula que não pode ser candidato nas eleições de 2014.
Ao mesmo tempo em que pediu um diálogo nacional, Assad lamentou ainda não ter encontrado um parceiro para achar uma solução política para o conflito, fazendo alusão à oposição, que se nega a iniciar negociações com o presidente.
No entanto, Assad informou que o diálogo teria início apenas sob certas condições.
“Os países envolvidos devem se comprometer a não seguir financiando as armas, e os homens armados devem deter qualquer operação terrorista. Então, nossas forças cessarão imediatamente as operações militares, mantendo o direito de responder”, explicou.
Logo após o discurso, a oposição síria rejeitou a proposta de diálogo nacional do presidente, recusando qualquer iniciativa que signifique manter o regime no poder.
“Dissemos, durante a formação da Coalizão, que queremos uma solução política, mas o objetivo dos sírios é retirá-lo (do país), e já perderam, para isto, mais de 60.000 mártires (…) não fizeram todos estes sacrifícios para permitir que um regime tirânico permaneça no poder”, declarou à AFP o porta-voz da oposição, Walid al-Bunni.
Em reação ao discurso do presidente sírio, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, disse, em mensagem divulgada em sua conta no Twitter, que “as promessas de reforma” de Bashar al-Assad “não enganam ninguém”, acrescentando que o discurso “vai além da hipocrisia”.
O presidente sírio fez estas declarações tendo como cenário a Casa da Cultura e das Artes, no centro de Damasco, onde chegou sob os aplausos de centenas de pessoas, que gritavam “Por nossa alma e por nosso sangue, nos sacrificaremos por ti!”.
Atrás do presidente, que falou por quase uma hora, havia uma enorme bandeira síria, composta por diversos rostos. Quando Assad se despediu do público, dezenas de pessoas estenderam as mãos, tentando tocá-lo.
Desde a explosão, em março de 2011, de uma revolta popular contra o poder que se transformou em guerra civil, o regime de Damasco equipara os rebeldes e opositores a terroristas armados e financiados pelo exterior, e denuncia uma conspiração contra a Síria.
“O mais importante não é o que vai dizer, mas o que vai acontecer na prática em terra”, declarou em Damasco, horas antes do discurso, Nuha, dona de casa de 40 anos que disse não ter conseguido dormir devido ao barulho dos combates e bombardeios.
O presidente sírio falou pela última vez em público no dia 3 de junho, quando se dirigiu ao Parlamento em Damasco. Em novembro, deu uma entrevista a uma rede de televisão russa na qual rejeitou a ideia de exílio, afirmando que viveria e morreria na Síria.
O discurso do presidente ocorre no momento em que as negociações diplomáticas parecem ter se intensificado nas últimas semanas.
Em dezembro, durante sua visita à Síria, o enviado internacional Lakhdar Brahimi havia mencionado um plano, “baseado na declaração de Genebra”, que previa um cessar-fogo, a formação de um governo e a organização de eleições presidenciais ou parlamentares.
Além disso, ocorreram vários encontros entre a Rússia, aliada do regime de Damasco, e os Estados Unidos, que pedem a renúncia de Assad.

A perda de hegemonia



Por Vladimir Safatl - Carta Capital
Durante décadas, a esquerda conseguiu sustentar uma certa hegemonia no campo cultural nacional. Mesmo na época da ditadura, tal hegemonia não se quebrou. Vivíamos em uma ditadura na qual era possível comprar Marx nas bancas e músicas de protesto ocupavam o topo das paradas de sucesso. Essa aparente legalidade que visava desarticular mobilizações mais profundas da sociedade nacional.
A ditadura brasileira compreendeu rapidamente que não era necessário um controle total da cultura. Os nazistas usaram um modelo parecido quando ocuparam Paris. Um controle parcial bastava, com direito a censura e perseguição em momentos arbitrariamente escolhidos. Dessa forma, liberdade e restrição confundiam-se em uma situação cada vez mais bizarra de anomia e desorientação da crítica.
Deve, porém, ter pesado no cálculo da ditadura a compreensão de que o custo para quebrar a hegemonia da esquerda no campo da cultura seria alto demais. Neste caso, melhor operar por intervenções cirúrgicas. Durante os anos 50 e 60, o País vivera uma impressionante consolidação cultural e intelectual que continuaria dando frutos nas próximas décadas. Colaborou para a propagação dessa hegemonia na classe média brasileira a guinada progressista da Igreja Católica, feita a partir do pontificado de João XXIII e do Concílio Vaticano 2º.
Com o fim da ditadura, a força cultural da esquerda permaneceu. Nossos jornais, por exemplo, seguiam o esquizofrênico princípio: conservador na política, liberal na economia e revolucionário na cultura. Mesmo que figuras como Paulo Francis e José Guilherme Merquior estivessem constantemente a representar o pensamento conservador, suas vozes eram em larga medida minoritárias. Vale lembrar que eles não representavam o conservadorismo mais puro e duro, com direito a pregação moralista de costumes e relação com os setores mais reacionários da Igreja.
Poderíamos acreditar que a perda de tal hegemonia seria resultado direto da queda do Muro de Berlim. Sem desmerecer o fenômeno, não é certo, no entanto, que ele tenha papel tão determinante. Pois vale lembrar como a esquerda cultural brasileira estava longe de ser a emulação do centralismo do Partido Comunista, com sua orientação soviética. Na verdade, as causas devem ser procuradas em outro lugar.
Primeiro, há de se lembrar como, desde o fim dos anos 80, as universidades brasileiras não conseguiam mais formar professores dispostos a desempenhar o papel de ­intelectuais públicos. Os intelectuais que tínhamos vieram da geração que entrou na universidade nos anos 70. Geração que viveu de maneira brutal a necessidade de mobilização política. As gerações que vieram compreenderam-se com uma certa timidez. Elas, em larga medida, foram marcadas pelo desejo de agir no âmbito mais restrito da universidade.
Segundo, há de se colocar a perda da hegemonia cultural como um dos sintomas da era Lula. Do ponto de vista político, o esforço da classe intelectual brasileira parece ter se esgotado com a eleição do ex-metalúrgico. Boa parte dos descaminhos do governo foi colocada na conta da legitimidade dos intelectuais que um dia o apoiaram ou que continuaram apoiando. O simples abandono do apoio não foi uma operação bem-sucedida. Como os intelectuais não tiveram discernimento suficiente para imaginar o que poderia ocorrer? Por outro lado, a repetição reiterada do lado bem sucedido do governo soava, para muitos, como estratégia para diminuir a força crítica diante dos erros, que não eram mais comentados no espaço público, devido ao medo de instrumentalização pela mídia conservadora.
Aos poucos, parte da mídia criou seus intelectuais conservadores, repetindo, algumas dezenas de degraus abaixo, um fenômeno que os franceses viram nos anos 70 com os nouveaux philosophes. Como se não bastasse, o próprio governo foi paulatinamente se afastando da órbita dos intelectuais de esquerda. A troca de comando do Ipea, por exemplo, com o convite ao economista liberal Marcelo Néri, está longe de ser um acontecimento isolado. Há de se notar como este governo é, desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso, aquele que tem menos intelectuais em seus quadros. Sequer o ministro da Educação é alguém vindo da vida universitária (como foram Paulo Renato Souza, Cristovam Buarque e Fernando Haddad).
Nesse contexto, sela-se uma situação nova no Brasil. Pela primeira vez em décadas a esquerda é minoritária no campo cultural. Há de se compreender como chegamos a esse ponto, já que este artigo é apenas um ­tateamento provisório.
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Cuba realiza reformas, mas não planeja afetar estrutura socialista do país


Por Carta Capital


O plano de reformas iniciado há dois anos em Cuba para reverter décadas de crise econômica e atualizar o modelo econômico da ilha está correndo bem e deve ser aprofundado, segundo o presidente do país, Raúl Castro. Entre as medidas tomadas recentemente está a entrada da empresa brasileira Odebrecht no setor açucareiro da ilha caribenha.
“A atualização do modelo econômico cubano (…) segue em bom ritmo e está começando a entrar em questões de maior alcance, complexidade e profundidade”, afirmou Castro no discurso de encerramento da Assembleia Nacional, em dezembro.
Castro pretende preservar e desenvolver em Cuba “uma sociedade socialista, sustentável e próspera”. Foto: DW









Castro pretende preservar e desenvolver em Cuba “uma sociedade socialista, sustentável e próspera”, que, para ele, seria a única garantia da independência e soberania nacional. Mesmo assim, analistas têm opiniões divergentes sobre as intenções de Cuba em promover uma abertura real desta vez.
Equilíbrio entre socialismo e crescimento
Michael Zeuske, professor de História da Universidade de Colônia, na Alemanha, duvida que venha a haver uma grande abertura. “Odebrecht é uma exceção, e a mensagem é também que Cuba não quer investimentos estrangeiros. Eu considero que isso é apenas uma experiência”, frisou.
Para Carlos Eduardo Vidigal, professor do curso de História da Universidade de Brasília (UnB), as reformas são lentas. Mas o governo tem se comprometido com a sua continuidade e abrangência, avançando na liberalização de pequenas e médias empresas, assim como na modernização de cooperativas urbanas de produção e serviço.
“A questão é a ‘calibragem’ necessária para prosseguir nas reformas sem afetar a estrutura socialista do país, o que explica a manutenção da propriedade estatal das terras, propriedades, subsolos e indústrias”, frisou Vidigal.
Ele acrescentou, ainda, que essas iniciativas têm ligação com o fim da ajuda soviética a Cuba nos anos 1990, o desempenho sofrível da economia a partir deste período e o exemplo chinês de abertura ao mercado, sem abandonar a “matriz socialista”.
Sobre facilitar investimentos brasileiros na ilha, Vidigal acredita que a possibilidade é grande, mas um passo nesse sentido será dado de forma extremamente cuidadosa, para evitar que a ilha caribenha se torne muito dependente de um ou de outro país.
“Os investimentos brasileiros podem dinamizar o setor açucareiro, o turismo e até mesmo a exploração de petróleo, mas isso exigiria um grande esforço diplomático para encontrar o ponto de equilíbrio entre os interesses dos dois países”, frisou.
Para o professor de Relações Internacionais da UnB, Argemiro Procópio Filho, mais do que uma experiência isolada, a parceria com a Odebrecht é o início da abertura econômica de Cuba e também um passo estratégico para que o país volte a ser membro da Organização dos Estados Americanos (OEA). “É um movimento de abertura com muita determinação e deve prosperar”, acrescentou.
Contrato com a Odebrecht
A concessão de uma central de colheita e produção de açúcar para o grupo brasileiro Odebrecht, pelo período de 13 anos, marca a abertura do setor agrícola de Cuba para empresas de outros países. Trata-se do primeiro investimento estrangeiro no setor agrícola desde o triunfo da Revolução de 1959.
O presidente Raúl Castro tenta, assim, recuperar a indústria com a modernização tecnológica e com a abertura ao capital estrangeiro. Espera-se que o setor açucareiro da ilha – cuja produção caiu de cerca de 8 milhões de toneladas na década de 1970 para apenas 1,4 milhão de tonelada na última safra – ganhe novos impulsos.
A Odebrecht vai gerenciar a usina 5 de Septiembre, localizada na província de Cienfuegos, a 225 quilômetros de Havana. A empresa, em comunicado, pretende aumentar a produção de cerca de 30 mil toneladas para 90 mil toneladas por safra.
A abertura do setor para uma empresa brasileira é um sinal de que a ilha caribenha valoriza as relações com o Brasil. De acordo com Vidigal, da UnB, o Brasil é visto em Cuba como um país confiável.
“Além disso, cito a competência técnica dos empresários brasileiros no setor sucroalcooleiro e nossa inserção no mercado mundial de açúcar e até mesmo do álcool combustível”, frisou Vidigal.
Sucateamento da indústria açucareira
O setor açucareiro, que era um dos motores econômicos da ilha, entrou em forte decadência nas últimas décadas em Cuba. Justamente o fato de os Estados Unidos deixarem de comprar açúcar de Cuba a preços preferenciais fez com que a economia cubana entrasse em crise.
Desde a dissolução da União Soviética, em 1991, e do fim da “parceria” entre Havana e Moscou, Cuba passou por dificuldades econômicas extraordinárias, cuja superação exige, segundo especialistas, a abertura ao mercado internacional, mesmo que essa abertura seja de modo progressivo e calculado. “Um exemplo é a China, que desenvolve seu projeto de potência econômica sem abandonar o comunismo”, frisou Vidigal, da UnB.
Oito engenhos de cana em Cuba foram construídos nas décadas de 1970 e 1980, mas o resto já estava na ilha antes da revolução de 1959. E até o ano de 2000, Cuba investiu pouco na modernização do setor açucareiro.
Zeuske lembra também que a decisão do então presidente Fidel Castro em fechar as principais centrais de colheita e produção de açúcar em 2000-2002 foi um erro. “Essa foi uma das grandes decisões de estruturação econômica de Fidel Castro. Infelizmente, uma decisão errada, como quase todas que ele tomou, como mostrou a crise a partir do ano de 2008″, frisou.
Projetos brasileiros na ilha
A entrada da Odebrecht na modernização da reprimida indústria açucareira aumenta o papel do Brasil na ilha e confirma a estratégia brasileira de promover a internacionalização de suas empresas.
“O Brasil, desde que alcançou a sua estabilidade financeira, resgatou uma antiga ambição, que é a de se projetar em sua vizinhança, começando pela América do Sul, pela costa oriental da África e, em terceiro lugar, o Caribe”, frisou Vidigal, da UnB.
Com isso, a própria Odebrecht já executa obras no valor de mais de 900 milhões de dólares para modernizar o porto de contêineres de Mariel, localizado no oeste da capital Havana.
O governo cubano aporta 15% do valor do projeto e o resto é financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) do Brasil. O porto é visto como uma plataforma comercial chave caso os Estados Unidos aumentem seu embargo de meio século contra a ilha caribenha.
O embaixador brasileiro em Cuba, José Felício, afirmou em entrevista à revista cubana Excelenciasque o Brasil não pode se desenvolver isoladamente no contexto da América Latina.
“Não cremos que seja possível, por exemplo, um crescimento do nosso país em meio de uma pobreza sul-americana. Queremos aproveitar o momento econômico que temos para ver se crescemos juntos”, frisou




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