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Voluntariado corporativo vai além das boas intenções





Tornar-se voluntário é uma opção de cunho eminentemente pessoal. Quando alguém decide dedicar parte de seu tempo a uma atividade sem remuneração, o faz porque acredita que ações individuais como a sua contribuem para transformar a realidade. O cidadão segue um impulso, propõe-se a canalizar sua experiência pessoal e seu conhecimento em prol de uma causa solidária. É uma vocação, uma missão. E resulta em uma gratificação intangível, íntima.


Desde que os temas ligados à responsabilidade social e à sustentabilidade ganharam mais relevância na agenda empresarial, o chamado voluntariado corporativo passou a ser propalado como uma das mais eficazes frentes de engajamento de funcionários nas causas defendidas pelas empresas.

É louvável qualquer iniciativa empresarial no sentido de fomentar o debate e a reflexão entre funcionários, clientes e fornecedores, sobre formas de se combater a desigualdade social. Ao assumir uma causa assim, e disseminar a bandeira do voluntariado, a empresa atua como catalisadora e inspiradora de ações que visem a transformação da sociedade.

O funcionário voluntário provavelmente perceberá essa tomada de posição não como um ato benevolente, mas como uma demonstração concreta de que a organização está consciente de seu papel social. De que a empresa sabe que também possui uma parcela (maior ou menor) de responsabilidade pelo que ocorre em seu entorno.

Nesse sentido, a adoção de uma sólida política corporativa de incentivo ao voluntariado é uma prova de que a empresa está disposta a encarar esses desafios.

Clima organizacional

Além disso, um programa estruturado de apoio ao voluntariado pode contribuir substancialmente para a melhora do clima organizacional, pode aumentar a sensação de pertencimento dos funcionários e, até, proporcionar um maior engajamento do público interno em outras causas defendidas pela empresa – desde que estejam alinhadas aos seus valores e crenças.

Mas para que isto ocorra, faz-se necessário que a empresa efetivamente acredite na causa do voluntariado e a assuma com convicção. O princípio essencial de uma relação saudável entre funcionário e empregador é a confiança, baseada na ética. O funcionário não pode jamais questionar as intenções da empresa; não pode desconfiar que um programa de cidadania corporativa seja apenas uma peça de marketing.

A melhor forma de a empresa provar seu engajamento é também impondo-se um certo nível de doação.

Aqui, não bastam somente as boas intenções.

Não bastam as campanhas e peças de comunicação interna. Tampouco adiantam “plataformas” digitais, nas quais aqueles funcionários que já são voluntários possam criar “blogs” e compartilhar suas experiências pessoais com os colegas de trabalho.

A melhor demonstração de uma empresa para engajar funcionários na causa voluntária é provar que ela própria, enquanto ente jurídico, também é capaz de fazer a sua “doação”.

Da mesma forma que as pessoas doam parte de seu tempo livre ao trabalho voluntário, cabe às empresas abrir mão de parte do tempo produtivo (e remunerado) de seus funcionários em favor dessa causa. Ou seja, para que um programa corporativo tenha legitimidade, ele deve pressupor que a empresa não apenas permita como estimule que seus funcionários dediquem um determinado tempo de seu trabalho ao voluntariado.

Uma postura empresarial como esta implica, na prática, em diminuição da produção e, eventualmente, em impacto na receita. Mas por outro lado, é um excepcional motivador dos funcionários: pois demonstra que a empresa está fazendo a sua parte.

Quanto mais um programa de voluntariado for estruturado, selecionando opções de entidades e de projetos sociais nos quais os funcionários podem atuar, e estabelecendo escalas de dispensa para cada setor ou departamento (visando minimizar o impacto da falta de alguns deles), mais satisfeitos ficarão os funcionários com a dedicação ao voluntariado.

Vale ressaltar que este engajamento da empresa não invalida ações pontuais, como eventos do tipo “Dia do Voluntariado”. Essas ações são uma forma bastante eficaz de mobilização, mas muitas vezes não geram comprometimento no longo prazo.



Infelizmente, quão maior for a organização, mais difícil será essa tomada de decisão pelo apoio ao voluntariado. Pois os impactos operacionais e financeiros dessa opção crescem em proporção geométrica conforme cresce o porte da empresa.

Mas por outro lado, quando a empresa assume essa postura, isso ganha um significado simbólico. É a demonstração de uma vontade política corporativa. É a prova de que a empresa reconhece seu papel social e assume suas responsabilidades perante a sociedade.


Afinal de contas, não existem empresas bem-sucedidas em uma sociedade carente

A oposição da Venezuela voltou a perder






Desde que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ganhou as eleições presidenciais há 12 anos, os partidos que conformam a oposição se fingem de desentendidos e ainda, pela mesma razão, não aceitaram que em seu país a mudança política e social era necessária e urgente.

Não aceitá-lo, no entato, implica não reconhecer os direitos das maiorias, fato pelo qual se produziu a repressão do Caracazo nos tempos de Carlos Andrés Pérez, que custou centenas de vidas e que determinou o levantamento do então coronel Hugo Chávez, depois encarcerado, episódio que no fim das contas significou o início da mudança.

Pareceria uma bobagem, mas não é. Por trás dessa atitude estão os negócios perdidos, como o petroleiro, e outros fundos públicos, ao que teria que agregar o medo dos setores populares que hoje exercem seus direitos, e que só poderiam ser impedidos de fazê-lo pela força que neste momento a oposição não possui.

Daí que não conseguissem ocultar sua alegria ao conhecer que o presidente Chávez tinha sido submetido a uma operação em Cuba. E quando se começou a especular que o mandatário teria câncer, pressionavam para que se traspassasse o poder ao vice-presidente e se iniciasse a contagem regresiva.

Durante esses poucos dias difamaram aos servidores públicos governamentais, dizendo que "o que deixa Chávez são dirigentes de calças curtas", enquanto outros, ao "lamentar" a doença presidencial diziam que o câncer criava situações de ânimo que lhe impediriam de desempenhar suas funções, mas que não lhe desejavam a morte.

A jogada opositora fracassou, os de "calça curta", ou seja, o vice-presidente Elías Jagua, recusou a "ascensão" que lhe ofereciam os opositores aos que qualificou como "setor doente, deshonrado", de ódios profundos e que não faz mais que regozijar em sua orgía de morte".

Assim, com apego estrito à Constituição e com o respaldo expresso das forças armadas, manifestado pelo general Henry Rangel, chefe do Comando Estratégico Operacional, Venezuela conheceu com calma e por voz de seu presidente, qual era o estado de sua saúde.

O regresso

Na quinta-feira 30 de junho, em uma transmissão televisiva desde Havana, o presidente Chávez informou em detalhe das operações a que tinha sido submetido para extirpar um tumor canceroso. Além de um relatório médico, a mensagem foi também uma expressão de seus sentimentos e crenças religiosas.

Ao dia seguinte registraram-se manifestações na praça Bolívar, na praça Madariaga, na praça Miranda e em avenidas centrais de Caracas, além de marchas e missas em diversas igrejas, com participação de jovens e adultos nas que se pedia por sua recuperação.

Quatro dias depois, o mandatário surpreendia o país ao chegar de madrugada desde Havana. Horas mais tarde uma multidão tinha-se reunido em frente ao palácio de governo e Chávez falou desde o balcão conhecido como "balcão do povo".

Seu discurso foi uma informação completa a respeito de como se encontrava e dos cuidados que devia ter nos meses por vir. Vestido de militar e em companhia de suas filhas assinalou: "Não devo estar aqui muito tempo, vocês sabem as razões. Esta batalha também a ganharemos e a ganharemos juntos!... Estou submetido e devo estar submetido durante um tempo a um estrito controle médico e científico passo a passo, e sei que o compreendem e são os primeiros em acompanhar para a vitória definitiva. Viveremos e venceremos..."

Relatou que tinha estado quatro dias em terapia intensiva, disse que ainda não está ganhando a batalha, que "apenas comecamos a lutar" e terminou sua intervenção dizendo que "nós viveremos, nós venceremos. Que viva a vida. Até a vitória sempre."


Militares e socialismo


Ao dia seguinte, o mandatário deu início, desde o palácio de Miraflores, ao desfile cívico-militar de comemoração do Bicentenário da Independência. No desfile, pôde-se ver o armamento moderno que a Venezuela adquiriu nestes anos e que provém majoritariamente da Rússia, desde que os Estados Unidos começaram a pôr impecilhos nas vendas. Nesta ocasião produziu-se um fato interessante: o Inspetor Geral do Exército, General de Divisão, Carlos Alcalá Cordones, explicou em entrevista televisiva os lemas vinculados ao socialismo que se fazem desde a Força Armada Nacional Bolivariana.

Disse que esta é "subordinada ao povo, com critério, moralizada, includente e inquebrantável". E agregou: "É um mandato de nossa Constituição de corresponsabilidade com o povo. Unidos em um único bloco para enfrentar qualquer tipo de situação que se apresente".

Isto se agrega às declarações do general Rangel, que já mencionamos, e abre algumas questões, porque desde que os militares peruanos tomaram o poder encabeçados pelo general Juan Velasco Alvarado não se conheciam propostas tão diferentes aos que hoje têm a quase totalidade dos exércitos latinoamericanos.

O contexto internacional

Desde que chegou ao governo, o presidente Chávez tem sido objeto de numerosas tentativas desestabilizadoras. A de maior envergadura foi o golpe frustrado no que estiveram envolvidos os Estados Unidos, já que se tratou de um fato no que teve ativa participação Otto Reich, a quem o então presidente Bush, pôs um tempo a cargo dos assuntos latinoamericanos.

E para além desse episódio,a relação nunca tem sido amistosa. O governo de Chávez recuperou a faixa petroleira do Orinoco, o que significou a perda de um grande negócio para a Chevron Texaco, empresa à que estava vinculada Condoleeza Encrespe, secretária de Estado de Bush.

Agora, Estados Unidos acaba de lembrar as sanções a Venezuela por suas relações com Irã e tenta se envolver nos planos iranianos para instalar uma central de energia nuclear. Na América Latina há claramente dois setores, ainda que as declarações de unidade proliferem. A Venezuela tem impulsionado importantes iniciativas integracionistas, como a Petrocaribe e o Banco do Sul, mas as forças que se movem em sentido contrário têm obstaculizado, por exemplo, o acesso venezuelano ao Mercosul.

Algumas correntes televisivas estadunidenses já estão semeando dúvidas sobre o estado de saúde do presidente Chávez e sua recuperação porque este disse que será por etapas. Mas isto é assim, e quem tenha alguma mínima informação sobre o câncer o sabe.

O importante nessa doença é a atitude do paciente e dos que o rodeiam. Mas o que se quer, pelo visto, é criar a priori a sensação de derrota porque há eleições presidenciais em Venezuela no próximo ano e o presidente Chávez poderia estar em condições de postular, ganhar e governar.

Frida Modak é jornalista chilena radicada no México e colabora com a Prensa Latina.

Reforma política: qual o espaço da mulher?






"Será lindo que o mundo todo saiba que temos [entre nós, mulheres] poetisas, declamadoras, cientistas, escultoras, pianistas, engenheiras, professoras, médicas, advogadas e, em futuro não muito distante, até constituintes".


O trecho acima foi recolhido pela antropóloga Mariza Corrêa; foi originalmente publicado no ano de 1931, pela Revista A Esquerda¹ e nos auxilia a perceber o quão antigas são as angústias em relação à atuação da mulher na vida pública do país. A primeira mulher a fazer parte do parlamento brasileiro foi Carlota Pereira de Queirós, eleita em 1933 para ser membro da Assembléia Constituinte Nacional. Carlota era a única mulher entre 254 Deputados Federais. Hoje, em 2011, as mulheres são cerca de 9,5% do Parlamento brasileiro, apesar se sermos cerca de 50% da população do país.

O espanto causado por esses números com certeza é maior entre aquelas/es que participam ou conhecem algum movimento social atuante em nosso país, que em geral são espaços em que é possível notar com facilidade a atuação determinante de um sem número de mulheres que dedicam sua vida à luta cotidiana por um mundo mais justo, mais igual, menos opressor.

A tod@s que conhecem o protagonismo político real das mulheres, no seio dos inúmeros movimentos sociais brasileiros que figuram o cenário político-social nacional, deve ter causado especial estranheza a declaração do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) que, quando da aprovação na Comissão de Reforma Política do Senado da cota de 50% de mulheres para as eleições proporcionais, afirmou que o número era excessivo, que já havia grande dificuldade em "preencher" os 30% anteriormente estabelecidos. De acordo com o senador, o difícil era o "recrutamento" de mulheres pelos partidos, que não conseguiriam cumprir suas cotas².

Enquanto mulher e militante política, mas antes disso, enquanto cidadã brasileira, me pergunto o porque de tanta dificuldade de alguns partidos em "recrutarem" mulheres para "preencherem" vagas. As respostas não são nada animadoras. Ainda hoje a representatividade das mulheres na política, quando tratada, é vista por muita gente como uma mera formalidade ou artificialismo. O público e o político permanecem sendo, no imaginário social, um espaço masculino – e a presença das mulheres incomoda.

Mas se estamos nos movimentando em nossos bairros, nas escolas dos nossos filhos, nas nossas universidades, nos grêmios das nossas escolas; por terra, por trabalho, por creches, por educação, por saúde e – ainda hoje – pelo direito de existir com dignidade, sem sermos violentadas; se somos tantas em tantos movimentos, porque não estamos atuando também nas instâncias de poder do nosso país? Porque não estamos legislando, representando nossas lutas no Parlamento nacional?

O espaço aberto pelas discussões em torno da Reforma Política permite que façamos essas discussões mais a sério. A ex-Deputada Federal pelo PSOL do Rio Grande do Sul, Luciana Genro, já disse que "nossa luta na reforma política tem que ser para que as forças vivas da sociedade possam se expressar nos processos eleitorais"³. Seguindo esse princípio, defendemos que nossas bandeiras e nossas lutas estejam representadas por nós mesmas, mulheres, na Câmara e no Senado nacional. Nós somos parte pulsante da "força viva da sociedade", e nossa atuação deve se expressar também nos processos eleitorais.

O estabelecimento de cotas para mulheres no cenário político é um primeiro passo que, antes de resolver, revela um problema que já há muito tempo é discutido pelos movimentos feministas, o problema do caráter privado da vida e da atuação da mulher.

Sem querer estender muito o assunto (que demanda outro comentário só para si), nunca é demais lembrar do lugar historicamente construído para as mulheres: o lugar do privado, a casa. Já é tempo de novos espaços serem construídos por nós, mulheres, militantes, ativistas, agente políticas do nosso dia-a-dia. Qualquer Reforma Política feita em nosso país deve ter como finalidade a expansão da democracia; deve estar lastreada às demandas populares, às lutas e à realidade dos movimentos sociais. De resto, não é a Reforma Política que queremos, é a simples e (infelizmente) já conhecida reprodução dos privilégios dos poucos barões do nosso país. É por caminhos que nos levam a uma sociedade mais igualitária que queremos caminhar.



Notas:
1 Citação pode ser encontrada no livro Morte em Família (1983), de Mariza Corrêa

2 Declaração publicada e comentada no site vigilantesdademocracia.org.br

3 Trecho do texto Na Contramão da Reforma Política, de Luciana Genro, disponível em lucianagenro.com.br

Renata Albuquerque é cientista social, militante do movimento Juntas e do PSOL

Marx e as crises






Daniel BensaïdA proeza de Marx, contemporâneo da primeira grande expansão bancária dos anos vitorianos e do Segundo Império, é ter atravessado as aparências, a superfície confusa das coisas, para procurar no coração do sistema as razões da ausência de razões, a lógica do ilógico.

Quando, no início dos anos 50, ele se dedica ao grande estaleiro da crítica da economia política, falta-lhe, no entanto, recuo histórico para apreender plenamente os ritmos da economia e desmontar os seus mecanismos. O próprio Ricardo, escrevendo sobre as crises de 1815, "não sabia, no fundo, nada sobre as crises". Os seus sucessores já não tinham as mesmas desculpas: "Os fenómenos posteriores, em particular a periodicidade quase regular das crises do mercado mundial, já não lhes permitem negar os factos ou interpretá-los como acidentais".

"O dinheiro grita o seu desejo"

"A crise inquieta-me de maneira infernal: Todos os dias, os preços baixam. Manchester afunda-se cada vez mais na crise.", escreve Engels a Marx a 17 de Dezembro de 1857. O seu entusiasmo perante a propagação da crise americana de 1857 é contagioso. As notas dos Manuscritos de 1857-1858 (ou Grundisse) testemunham-no. A crise surge sob a metáfora da loucura, mas de uma loucura que "domina a vida dos povos". As tendências esquizóides do sistema capitalista manifestam-se plenamente. A unidade aparente da mercadoria "fragmenta-se". O valor de uso e o valor de troca "dissociam-se" e "comportam-se de maneira autónoma um em relação ao outro". Toda a economia se torna delirante, "alienada", enquanto esfera autónoma tornada incontrolável.

O vocabulário clínico não tem aqui nada de fortuito:

"No decurso das crises, quando o momento de pânico passou e a indústria estagna, o dinheiro está fixo nas mãos dos banqueiros, dos agentes de troca, e tal como o cervo brame a sua sede por água fresca, o dinheiro grita o seu desejo de um domínio onde possa ser valorizado enquanto capital."[1]

A sobre produção e a desvalorização do capital aparecem então como "a recordação repentina de todos os momentos necessários da produção fundada sobre o capital". Um regresso do recusado, em suma: a crise recorda à esfera (ou à bolha) financeira que ela não flutua por levitação, desligada daquilo a que hoje chamamos bizarramente "a economia real".

A condição de possibilidade das crises inscreve-se na duplicidade da mercadoria. Como todo o bom burguês, ela vive uma dupla vida. Por um lado, ela é tempo de trabalho abstracto materializado; por outro lado, é o resultado de um trabalho determinado. Para se comparar a outras grandezas de trabalho, ela deve "ser em primeiro lugar transposta em tempos de trabalho, ou seja, em qualquer coisa que difira qualitativamente dela". Esta "dupla existência" comporta em si mesma o risco permanente de uma cisão; Ela "deve necessariamente progredir até à diferença, a diferença até à oposição e à contradição entre a natureza particular da mercadoria enquanto produto [valor de uso] e a sua natureza universal enquanto valor de troca. "

Para Marx, a crise de 1857 coloca em evidência o divórcio entre o valor de uso do produto e o valor de troca expresso no dinheiro. É possível que a mercadoria já não possa ser "colocada em equação com a sua forma universal, o dinheiro". Instala-se então a discórdia entre produção e circulação. Compra e venda adquirem formas de existência "espacial e temporalmente distintas uma da outra, indiferentes uma à outra": "A sua identidade cessa imediatamente". A crise revela e conduz ao paroxismo esse mal-estar identitário. A busca da identidade perdida perante uma fuga em frente, seguida de separações dolorosas e de reencontros efémeros. Como numa canção de Jules y Jim, compra e venda perdem-se de vista e reencontram-se sem cessar: "Eles podem corresponder-se ou não se corresponder; eles podem coincidir ou não; A sua relação pode ser marcada por desproporções . Certo, eles procurarão constantemente igualizar-se, mas agora é o movimento contínuo da igualização que substitui a igualdade imediata anterior, igualização que, precisamente, pressupõe que seja continuamente criada uma não-igualdade. "

A crise de 1857 coloca em evidência o divórcio entre o valor de uso da mercadoria e o valor de troca expresso no dinheiro, que ameaça interromper a sua "convertibilidade. O perigoso salto do capital da forma de mercadoria para sua forma de dinheiro pode então torna-se mortal. O "germe das crises" está então presente no dinheiro enquanto "valor tornado autónomo", "forma de existência tornada autónoma do valor de troca"[2]. Esta autonomia engendra a ilusão de que o dinheiro possa multiplicar-se por partenogénese, crescer no circuito do crédito sem ser fecundado pela sua passagem pelo processo de produção.

Uma cisão nunca vem só. Aquela que divide a troca em actos independentes, de compra e de venda, refracta-se na divisão entre capital industrial, comercial e bancário: "o valor para a troca separa-se da troca por mercadorias". Marx entrevê então a ordem complexa das arritmias do capital:

"Até aqui, só demonstrámos com evidência a indiferença recíproca dos momentos singulares do processo de valorização; que interiormente eles se condicionam, e que exteriormente se procuram, mas que eles podem ou não encontrar-se, separar-se ou não, corresponder-se ou não uns aos outros. A necessidade interna daquilo que forma um todo; e, ao mesmo tempo, a sua existência autónoma e indiferente, que já constitui a base das contradições. Mas, estamos longe de ter terminado. A contradição entre a produção e a valorização — na qual o capital constitui a unidade — deve ser apreendida de forma ainda mais imanente, como manifestação indiferente e aparentemente independente dos diferentes momentos singulares do processo, ou, mais exactamente, da totalidade de vários processos que se opõem."[3]

A divisão propaga-se. A ordem descompassada da produção mercantil, onde o valor das coisas vira as costas à sua substância útil, range e empena por todas as partes. Não são mais do que queixas e lamentos, agonias e gemidos de corpos desarticulados:

"A crise manifesta a utilidade dos momentos promovidos à autonomia relativamente uns aos outros. Não existiria crise sem esta unidade interna de elementos aparentemente indiferentes uns em relação aos outros. Ela não é mais do que a instalação violenta da unidade das fases do processo de produção, que se autonomizaram uma face à outra. É o estabelecimento pela força da unidade entre os momentos promovidos à autonomia e à autonomização pela força de momentos que estão essencialmente unidos".[4]

A ordem do capital — mas não a harmonia social — deve então ser restabelecida pela violência e pela força. Isto é o que se obstinam em negar os economistas que se limitam à "unidade essencial" e ignoram o que torna os elementos do processo de conjunto estranhos uns aos outros, e hostis até à explosão.

Desequilíbrio lógico

Na passagem das Teorias sobre a mais-valia retomadas no presente volume, Marx reaborda e desenvolve a análise das crises e da sua recorrência, que tinha iniciado em Grundrisse. Ele opõe-se às teorias do equilíbrio, inspiradas no "insípido Jean-Baptiste Say", segundo as quais a sobre produção seria impossível, devido a uma identidade imediata entre a procura e a oferta. O princípio pelo qual "trocamos produtos contra produtos" garantiria, segundo ele, "um equilíbrio metafísico entre vendedores e compradores". Ricardo recorre a esta fábula de Say, segundo a qual "ninguém produz sem a intenção de vender ou de consumir, e ninguém vende sem ser para comprar uma outra mercadoria que lhe possa ser útil". Ao produzir, cada um tornar-se-ia "necessariamente quer consumidor da sua própria mercadoria, quer comprador ou consumidor das mercadorias de outrem". O ciclo seria então perfeitamente fechado; e o equilíbrio entre compra e venda, oferta e procura, assegurado.

O disfuncionamento não poderia [ser] então senão de uma falta de informação ligada à complexidade crescente do mercado. Ricardo contempla-o, mas tranquiliza-se de imediato: "Não poderíamos admitir que o produtor possa estar mal informado durante muito tempo sobre as mercadorias que pode produzir com o lucro mais alto", e "é portanto inverosímil que ele possa produzir duravelmente uma mercadoria para a qual não existe procura". Em suma, o mercado seria um informador perfeito. Mais próximo de nós, este foi o argumento liberal de Friedrich Hayek em favor da concorrência livre e não falseada, tão cara aos arquitectos da União Europeia. A privatização da informação financeira e a invenção de produtos financeiros cada vez mais sofisticados, que apagam as pistas e confundem as mensagens, retiram fundamento a este mito. O mercado mostrou-se incapaz de suportar " o desafio informativo" ligado à micro finança. Constatando a impotência da comissão encarregue de vigiar os mercados americanos (a SEC, Securities and Exchange Commission) em desenredar as contas fabulosas de um Madoff, o seu antigo presidente, William Donaldson, admite que continua "por inventar" um "controlo adaptado a sistemas do mercado complexo".

É uma constatação de fracasso, em boa e devida forma, das pretensiosas "matemáticas financeiras" que nunca são, como bem escreve Denis Guedj, senão matemáticas mercenárias aplicadas à finança[5]. O seu modelo 'Iraniano', concebido para formalizar "efeitos de agitação média", é impotente para prestar contas "das situações de risco extremo que podem surgir nos mercados, de forma que eles não vêem as crises ou as falhas", lamenta Olivier Le Courtois, professor de finanças (!) na EML de Lyon. Nas situações extremas em que o sistema capitalista gera de forma recorrente o "imprevisto sábio" sobre o qual trabalham os calculadores de risco, transforma-se, com efeito, em "imprevisto selvagem".

Ricardo ainda podia crer na imparcialidade e na fiabilidade informativa do mercado, se não em tempo real, pelo menos a prazo, a longo prazo, a posteriori. Mas, e enquanto se espera? Entretanto, a cisão entre venda e compra permanece, e a "disjunção do processo de produção imediato e do processo de circulação desenvolve a possibilidade da crise". Esta possibilidade resulta do facto de as formas que o capital percorre no ciclo das suas metamorfoses (de dinheiro — A — a meios de produção — P — de meios de produção a mercadorias — M —, e de mercadorias a dinheiro) "poderem ser, e serem, separadas". Elas "não coincidem no tempo e no espaço". E mais ainda com a mundialização: o capitalista individual entende o salário que paga aos seus assalariados como um custo de produção puro, a partir do momento em que o consumidor compra produtos de importação e que os seus próprios produtos são vendidos num mercado longínquo. O círculo, qualificado de virtuoso, entre produção e consumo, venda e compra, é estilhaçado.

A separação da venda e da compra distinguem a economia capitalista de uma economia de troca onde "ninguém pode ser vendedor sem ser comprador", e vice-versa. Então, o conjunto da população é directamente orientado para a satisfação de necessidades imediatas. "Na produção mercantil", em contrapartida, "a produção imediata desaparece". Já não se produz para as necessidades, mas pelo lucro, que não tem qualquer interesse pelas necessidades sociais, mais apenas pela procura solvente. Pois, "se a venda não tem lugar, é a crise". Na produção mercantil, para realizar a mais-valia que lhe é incorporada, "a mercadoria deve necessariamente ser transformada em dinheiro, enquanto o dinheiro não deve necessária e imediatamente ser transformado em mercadorias". É por isso que venda e compra se podem dissociar. Sob a primeira forma, "a crise é a metamorfose da própria mercadoria, a disjunção da compra e da venda". Sob a segunda forma, ela é função do dinhei ro como meio de pagamento tornado autónomo, "em que o dinheiro figura em dois movimentos separados no tempo, em duas funções distintas", de simples equivalente geral entre mercadorias e de capital acumulado.

Esta autonomização do dinheiro encontra o seu prolongamento na separação entre o lucro de uma empresa e o capital portador de interesse. Então, diz Karl Marx,

"dar à forma da mais-valia uma existência autónoma, causa a esclerose desta forma relativamente à sua substância. Uma parte do lucro, por oposição à outra, desliga-se completamente da relação capitalista enquanto tal, e parece derivar não da exploração do trabalho assalariado, mas sim do trabalho do próprio capitalismo. Por oposição, o interesse parece então ser independente quer do trabalho assalariado do operário e do trabalho do capitalismo, e ter no capital a sua fonte própria, autónoma. Se primitivamente o capital fazia, na superfície da circulação, de fetiche capitalista, de valor criador de valor, ele reaparece aqui sob a forma de capital portador de interesse, a sua forma mais alienada e a mais característica."[6]

Este prodígio do capital portador de interesse, do dinheiro que parece fazer dinheiro sem percorrer o ciclo completo das suas metamorfoses, é o estádio supremo do fetichismo e da mistificação mantida pelos economistas vulgares.

Assim, para realizar a mais-valia é necessário vender. Mas a busca insaciável do lucro tende a restringir os mercados, comprimindo os salários ("o poder de compra"!). Graças aos prodígios do crédito, a autonomia do dinheiro permite que seja empreendido um novo ciclo de produção, que flua uma nova vaga de mercadorias, enquanto a precedente ainda não foi escoada. Saturação do mercado (sobre produção) e sobre acumulação do capital são, então, o verso e o reverso de um mesmo fenómeno[7]. Os sucessores de Ricardo, escreve Marx, bem quiseram admitir a sobre produção sob uma das suas formas, "a plétora, ou sobre abundância de capital", mas negam-na sob outr a forma, a da sobre abundância de mercadorias no mercado[8]. Claro que esta sobre produção não tem nada a ver com uma saturação das necessidades sociais, que continuam amplamente insatisfeitas: "Ela não tem senão a ver com as necessidade solventes". Não se trata de uma sobre produção absoluta ou em si, mas sim de sobre produção relativa à lógica da acumulação do capital.

O capital transporta em si a crise

Nos Manuscritos de 1857-1858, a crise intervém de forma tripla: empiricamente, através da recessão americana; através da separação da compra e da venda, que cria as condições formais da sua possibilidade; e, por fim, metaforicamente, como loucura e sofrimento pela cisão. Mas a teoria carece ainda de luzes sobre o plano de conjunto da Crítica da economia política. Em 'O Capital', ela ganha a sua coerência.

No Livro I, sobre o "processo de produção", Marx retoma a sua crítica da lei clássica dos mercados e do equilíbrio:


"Não há nada mais tolo do que o dogma segundo o qual a circulação implica necessariamente o equilíbrio das compras e das vendas, visto que toda a venda é compra, e vice-versa."

O que se pretende provar assim é que "o vendedor leva ao mercado o seu próprio comprador". Esta identidade imediata, que existia no comércio de troca é rompida pela generalização da produção mercantil e pela autonomização do dinheiro enquanto equivalente geral. Já não se trata, portanto, de troca directa de um valor de uso contra um outro valor de uso, mas de uma mercadoria contra dinheiro. A transacção torna-se "uma pausa", ou "um intermédio na vida da mercadoria, que pode durar mais ou menos tempo". A autonomia do dinheiro sanciona então a ruptura da simetria perfeita da troca. A vida da mercadoria, o encadeamento das suas metamorfoses, depende primeiramente dos desejos e caprichos do seu comprador potencial, mas também dos seus meios e solvência. No mostrador ou na vitrina, ela retém o seu alento face ao dinheiro, esse belo indiferente, que quererá comprá-la ou a desdenhará, segundo o seu belo prazer. Se este intermédio e esta espera se eternizam, a mercadoria em apneia arrisca a asfixia. A disjunção e a assimetria entre o acto de compra e o acto de venda é, portanto, um factor, não de equilíbrio, mas sim de desequilíbrio dinâmico.

O conceito de crise intervém então uma primeira vez em 'O Capital', não para evocar as crises empíricas, mas como consequência lógica do "laço íntimo" e contraditório entre os actos disjuntos e potencialmente contraditórios de compra de venda. Aparece de novo, mais à frente, no capítulo sobre "A lei geral da acumulação capitalista". Articula-se então com a temporalidade própria do capital. A acumulação apresenta-se como "um movimento de extensão quantitativa" que visa, graças às inovações tecnológicas estimuladas pela concorrência, a um aumento da produtividade do trabalho e a uma economia do trabalho vivo (logo, de emprego). A produção pode então continuar a aumentar enquanto os mercados se reduzem. Apesar das aparências, o factor determinante não reside na tecnologia em si, mas nos fluxos e refluxos da força de trabalho empregada.

Marx aborda assim, não apenas as condições de possibilidade das crises, mas o seu carácter recorrente e cíclico:

"A conversão contínua e renovada de uma parte da classe operária em outro tanto de braços semi-ocupados, ou totalmente desocupados, imprime assim ao movimento da indústria moderna a sua forma típica. Da mesma forma que os corpos celestes, uma vez lançados na sua órbita, a descrevem durante um tempo significativo, a produção social, uma vez lançada no movimento alternado de expansão e de contracção, repete-o por uma necessidade mecânica. Os efeitos tornam-se, por sua vez, causas, e peripécias irregulares e aparentemente acidentais, assumem cada vez mais a forma de uma periodicidade normal. "É apenas do século XIX, desta época em que o mercado se mundializa, em que as nações industrializadas se tornam numerosas, «que datam os ciclos renascentes cujas vagas sucessivas abarcam anos, e que levam sempre a uma crise geral, ao fim de um ciclo e ponto de partida de um outro". O conceito de crise associa-se ao dos ciclos económicos que caracteri za a economia capitalista[9].

No Livro II, sobre "o processo de circulação", Marx marca as estações do calvário da mercadoria no processo de circulação. Ele introduz novas determinações, nomeadamente as do capital fixo e de capital circulante, e do seu ritmo desigual de renovação. Ele retira também consequências da descontinuidade entre produção e circulação. Submetida às exigências de uma acumulação guiada pela busca insaciável de lucro, a produção em massa pode continuar sem que as mercadorias produzidas no ciclo anterior tenham realmente entrado e sido escoadas no consumo individual ou produtivo. O fecho do ciclo das metamorfoses do capital não está, portanto, garantido. Se fracassa, "as vagas de mercadorias sucedem-se", enquanto as precedentes ainda não foram senão aparentemente absorvidas pelo consumo. Produz-se então "uma paragem". "Compra e venda paralisam-se reciprocamente ". Assim,

"a totalidade do processo de produção encontra-se no estado mais florescente, enquanto uma grande parte das mercadorias ainda não entrou senão aparentemente no consumo e permanece nas mãos dos revendedores sem encontrar comprador, ou seja, encontram-se ainda no mercado. ".

É a quebra das vendas, são os preços em queda para escoar os stocks, a venda com prejuízo, se necessário, de forma a reconstituir liquidez.

No Livro III, sobre "o processo de reprodução de conjunto", Marx mostra, enfim, como a cristalização do capital em diversos capitais — industrial, comercial, bancário — chega a ocultar temporariamente a desproporção crescente entre a reprodução alargada e a procura final restante. A explosão da crise pode assim ser diferenciada, nomeadamente graças à intervenção dos capitalistas financeiros, que transformam o seu lucro realizado em capital-dinheiro de empréstimo:

"Conclui-se então que a acumulação desse capital, diferente da acumulação real, qualquer que seja o rebento, aparece se não considerarmos senão os capitalistas financeiros, banqueiros, etc., mas também a acumulação própria destes capitalistas financeiros."[10]

Assim, a acumulação deste "capital fictício" na véspera da crise actual, tinha atingido tais dimensões que o esvaziar da bolha financeira foi igualmente vertiginoso: Em pouco menos de um ano, entre 29 de Dezembro de 2007 e 31 de Março de 2009, a capitalização bolseira do banco HSBC passou de 199,9 para 68 milhões de dólares (ou seja, uma quebra de dois terços), a do Bank of America passou de 194,6 para 31,1 milhões, a do Citygroup passou de 151,3 para 13 milhões, a do Natixis passou de 29,8 para 4,9 milhões, etc. Entre as sessões de 29 de Junho de 2007 e a do 1º de Abril de 2009, os índices das principais praças financeiras caíram em 53% (CAC 40) e 43% (Dow Jones).

A crise não pode, portanto, ser conjurada indefinidamente. O desenvolvimento do crédito pode adiá-la, como se produziu nos anos 1990, em que a desregulação financeira pôde dar a ilusão de um "regresso do crescimento". Mas o capital não pode prosperar indefinidamente a crédito. A quebra das vendas, ou o fracasso por causa da acumulação de créditos insolventes, acaba por dar o sinal geral de alarme. Quando já não podemos ignorar que a primeira vaga de mercadorias não foi senão aparentemente absorvida pelo consumo (ou graças a um crédito aventureiro), é a avalanche:

"Os capitais mercantis disputam o lugar no mercado. Para vender, os últimos a chegar vendem abaixo do preço, enquanto os primeiros stocks não são liquidados dentro dos prazos de pagamento. Os detentores são obrigados a declarar-se insolventes, ou a vender a qualquer preço para poderem pagar. Esta venda não corresponde em nada ao estado da procura, ela corresponde apenas à procura de pagamento, à necessidade absoluta de converter a mercadoria em dinheiro. A crise rebenta."[11]

É muito exactamente o que se produz desde o início da crise de 2008: vemos concessionários propor duas viaturas pelo preço de uma, promotores imobiliários oferecerem um automóvel como prémio do aluguer de uma habitação, e saldos monstruosos que começam a 70% ou menos de 90% do preço inicial!

A primeira determinação da crise reside então na disjunção entre a esfera da produção e a da circulação. A segunda, na disjunção entre o ritmo de rotação do capital fixo e aquele do capital circulante. O Livro III introduz uma nova, que pressupõe e integra as duas precedentes: a "lei da queda tendencial da taxa de lucro". O capítulo 13, sobre "A natureza da lei", recapitula "os três factos principais da produção capitalista": a concentração dos meios de produção em poucas mãos, a organização do trabalho social e a sua divisão como trabalho cooperativo, e a constituição do mercado mundial.

"No que respeita à população, a enorme força produtiva que se desenvolve no quadro do modo de produção capitalista, e o aumento dos valores-capital, que crescem bem mais depressa do que a população, entram em contradição com a base do lucro sobre a qual se exerce esta enorme força produtiva — e que, relativamente ao aumento da riqueza, se ameniza cada vez mais —, e com as condições de valorização deste capital que cresce sem cessar. Daí as crises".

Com efeito, daí as crises.

Na realidade, por detrás da aparência económica da "lei da queda tendencial da taxa de lucro", manifestam-se o conjunto das barreiras sociais sobre as quais choca a acumulação do capital. Esta estranha lei, que Marx expõe no capítulo seguinte, "as contradições internas", alimentou bastantes controvérsias. De facto, ela parece não se poder impor a não ser através das suas próprias negações: o aumento da taxa de exploração, que visa restabelecer o lucro; a predação imperialista, que permite reduzir a composição orgânica do capital através da exploração de uma força de trabalho em saldo, e através da redução do custo das matérias-primas; a aceleração da rotação do capital, graças à publicidade, ao crédito, à gestão dos stocks para compensar a quebra na taxa de lucro através do aumento da sua massa; A intervenção pública do Estado via despe sas públicas, ajudas fiscais e despesas de armamento.

É, portanto, estranha, esta lei que se contradiz e contraria a si mesma:

"A depreciação periódica do capital, que é um meio imanente ao modo de produção capitalista para deter a redução da taxa de lucro e acelerar a acumulação do capital através da formação de capital novo, perturba as condições determinadas nas quais se cumpre o processo de circulação e de reprodução do capital e, consequentemente, é acompanhada de bruscas interrupções e crises do processo de produção."

Quando a taxa de lucro baixa, aumenta o volume de capital de que o capitalista deve dispor para investir. Segue-se uma concentração de capitais que implica uma nova baixa da taxa de lucro, na medida em que ela se traduz por uma acumulação acrescida de capital constante. Ameaças de asfixia, os pequenos capitais dispersos são então levados a "enveredar pela via da aventura".



Equação da queda tendencial da taxa de lucro

[pl / (c + v)] = {(pl / v) / [(c / v) + 1)]}

com (c / v) = composição orgânica do capital

e (pl / v) = taxa de exploração

encontra-se no numerador a taxa de exploração (ou de mais-valia): (pl / v)

e no numerador da composição orgânica [(c / v) + 1]

de forma que, se a composição orgânica aumenta quando a taxa de exploração continua igual, a taxa de lucro diminui.

Quanto mais se acumula o trabalho morto (c) em detrimento do trabalho vivo (v), (mais a "composição orgânica" do capital (c / v) aumenta, e mais a taxa de lucro [pl / (c + v)] tende então a baixar. Esta não é uma lei mecânica ou física, mais uma "lei social" (supondo que o termo da lei continue apropriado). A sua aplicação depende de variáveis múltiplos, de lutas sociais com resultado incerto, de relações de forças sociais e políticas instáveis. Ela não cessa portanto de se contrariar a si mesma, suscitando contra-tendências:

- o aumento da taxa de exploração tende à repor a taxa de lucro, seja pelo alongamento do tempo de trabalho, seja pelo aumento da sua produtividade, seja pela compressão dos salários abaixo das taxas de inflação, ou seja ainda pela amputação do salário indirecto (a protecção social);

- os mecanismos de dominação imperialista contribuem para fazer baixar a composição orgânica do capital pelo recurso a trabalho barato e pela redução do custo de produção de uma parte do capital constante;

- a aceleração da rotação do capital compensa a queda da taxa de lucro com o aumento da sua massa;

- a intervenção económica do Estado apoia a economia através das despesas públicas, das despesas de armamento, das ajudas fiscais e da "socialização das perdas".

O aumento da taxa de mais-valia [pl/v] pode então contrariar a "queda tendencial" de diversas maneiras. Através:

- da intensificação do trabalho - aumento da mais-valia relativa.

- do alongamento da sua duração - aumento da mais-valia absoluta.

- da redução do capital variável pela descida dos salários directos ou indirectos.

- da redução do capital constante pela redução do custo das matérias-primas, a produção de fluxo contínuo (just in time), o stock zero...

Além disso:

- A queda efectiva da taxa de lucro não implica automaticamente uma redução da sua massa. Se o ritmo de rotação do capital se acelera, a segunda pode continuar a aumentar, mesmo que a primeira caia. Se ele completa o seu ciclo, por exemplo, quatro vezes ao ano em vez de uma só, a massa pode, pelo contrário, ser multiplicada por dois, mesmo se a taxa diminui para metade. A facilidade do crédito, o marketing, a publicidade, a gestão do grande consumo, a obsolescência integrada, a falsa novidade da moda, contribuem precisamente a acelerar essa rotação e a dar o sentimento de uma aceleração da história.

- A extensão geográfica do domínio da produção mercantil também pode retardar os prazos da crise. A duplicação em vinte anos da força de trabalho disponível no mercado mundial de trabalho significa assim, quer um aumento do capital variável (logo, uma descida relativa da composição orgânica global) e um aumento do grau de exploração (dada a vulnerabilidade social de uma mão-de-obra frequentemente provada de direitos do trabalho e de protecções sociais); são dois factores susceptíveis de travar a queda da taxa de lucro, ou mesmo de a impedir temporariamente.

Estas respostas do capital à erosão tendencial da taxa de lucro são os recursos ocultos daquilo a que o senso comum chama mundialização. Assim, as crises não constituem limites absolutos à produção e ao consumo de riquezas sociais, mas contradições relativas a um modo de produção específico "correspondente a uma certa época de desenvolvimento restrito das condições materiais de produção". Não se produzem demasiados bens de consumo relativamente às necessidades da população, nem demasiados meios de produção relativamente à população em condições de trabalhar, "mas produzimos periodicamente demasiada riqueza, sob formas capitalistas contraditórias". No Livro III de O Capital, a separação da compra e da venda que constitui a condição geral formal das crises, traduz-se então concretamente pelo facto de a capacidade de consumo solvente entrar em co ntradição com a procura do máximo lucro. Marx nunca fala de uma "crise final". Ele demonstra apenas como "a produção capitalista tende sem cessar a ultrapassar as suas barreiras imanentes". Contrariamente ao que, nos anos 30, puderam pretender Evgheni Varga e os teóricos da crise de afundamento final do capitalismo (Zusammenbruchstheorie) no seio da Terceira Internacional[12], as suas crises são inevitáveis, mas não inultrapassáveis. A questão é saber a que preço, e sobre as costas de quem, elas podem ser resolvidas. A resposta não pertence à crítica de economia política, mas à luta de classes e aos seus actores políticos.

Notas:
[1] K. Marx, Manuscritos de 1857-1858, Paris, Editions sociales, 1980, tomo 1, p.356. (retornar ao texto)

[2] K. Marx, Manuscritos de 1861-1863, Paris, Editions sociales, 1980, pp. 17 et 18. (retornar ao texto)

[3] K. Marx, Manuscritos de 1857-1858, op. cit. tomo I, p. 354. (retornar ao texto)

[4] K. Marx, Théories sur la plus-value, Paris, Editions sociales, 1976, tomo 2, ver pp. 84 597 608, 612. (retornar ao texto)

[5] Denis Guedj, "Estes matemáticos vendidos aos financeiros/ Ces mathématiques vendues aux financiers", Libération, 10 Dezembro 2008: "Como não falar da diva dos média, a senhora Karoui? Madre Superiora das MAF (matemáticas aplicadas à finança), entrevistada pelo Wall Street Journal, que ousou proclamar: "As matemáticas financeiras não têm nada a ver com a crise". Não é porque os seus rebentos não viram chegar a crise que deixam de ter alguma coisa a ver com ela. Interrogada sobre os produtos derivados, a senhora Karoui oferece esta resposta magnífica: "a sua existência não é um absurdo". Enquanto matemática, ela utiliza a prova da existência pela impossibilidade de não-existência: os produtos derivados devem existir, visto que podem existir!" (retornar ao texto)

[6] K. Marx, O Capital, Paris, Editions sociales, tomo 3, p.20. (retornar ao texto)

[7.] Marx escreveu em O Capital que dizer que as crises são provocadas por uma ausência de procura ou de consumo efectivos constitui "uma pura tautologia": "O sistema capitalista não reconhece outro consumidor senão aquele que pode pagar. O facto de haver mercadorias invendáveis não significa mais do que o facto de não se lhes ter encontrado comprador». E Engels precisa, na Anti-Dühring, que é impossível explicar as crises capitalistas com fenómenos que existiam bem antes do capitalismo: "O subconsumo de massa, a restrição do consumo das massas ao estritamente necessário à reprodução, não é um fenómeno novo. Isso sempre existiu, desde que há classes exploradoras e classes exploradas. Em consequência, enquanto o subconsumo foi um traço permanente ao longo de milhares de anos, o afundar dos mercados nas crises, resultante de uma sobre produção, é característico dos últimos cinquenta anos. O subconsumo das massas é uma condição necessária de toda a sociedade baseada na exploração, incluindo, portanto, a sua forma capitalista; mas é o modo específico de produção capitalista que gera as crises. O subconsumo das massas é, assim, uma condição necessária das crises, e joga no seu desenvolvimento um papel há muito reconhecido. Mas não nos diz grande coisa sobre porque é que as crises existem hoje e porque é que não existiam anteriormente." (retornar ao texto)

[8] K. Marx, Théories sur la plus-value, Paris, Editions sociales, 1976, tomo 2, ver pp. (retornar ao texto)

[9] A crise de 1857 é a ocasião de uma tomada de consciência da periodicidade das crises. Em 1862, Clément Juglar publica Les crises commerciales et leur retour périodique en France, en Angleterre, aux Etats-Unis (As crises comerciais e o seu retorno periódico em França, em Inglaterra e nos Estados Unidos). Na sua correspondência com Engels, Marx tenta ligar esta periodicidade das crises aos ritmos de renovação do capital fixo. A teoria de ciclos longos, atribuída a Kondratieff, é bem posterior. Ver, a este respeito, Ernest Mandel, Long waves of capitalisme, e Dockès e Rosier, Les rythmes économiques. (retornar ao texto)

[10] K. Marx, O Capital, tomo 3, op. cit., p. 164 e 171. (retornar ao texto)

[11] K. Marx, O Capital, op. Cit., Livro III, tomo 2, p. 71. (retornar ao texto)

[12] Ver Giacomo Marramao, Il politico et le transformationi, Bari, 1979. (retornar ao texto)

Este texto constitui a primeira parte da introdução de Daniel Bensaïd à recolha de textos de Marx sobre as crises publicada por Demopolis: 'Karl Marx, As Crises do Capitalismo', Demopolis, Paris, Junho de 2009.

Transcrição autorizada

Tradução: Sérgio Vitorino

Fonte: Associação Política Socialista Revolucionária.

Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir

Há muitos anos, venho trabalhando sobre a crise de civilização que se abateu perigosamente sobre a humanidade. Não me contentei com a análise estrutural de suas causas, mas, através de inúmeros escritos, tratei de trabalhar positivamente as saidas possíveis em termos de valores e princípios que confiram real sustentatibilidade ao mundo que deverá vir.

Ajudou-me muito, minha paricipação na elaboração da Carta da Terra, a meu ver, um dos documentos mais inspiradores para a presente crise. Esta afirma:"o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal".

 Dois valores, entre outros, considero axiais, para esse novo começo: a sustentabilidade e o cuidado. A sustentabilidade, já abordada no artigo anterior, significa o uso racional dos recursos escassos da Terra, sem prejudicar o capital natural, mantido em condições de sua reprodução, em vista ainda ao atendimento das necessidades das gerações futuras que também têm direito a um planeta habitável.

 Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de economia respeitadora dos limites de cada ecossistema e da própria Terra, de uma sociedade que busca a equidade e a justiça social mundial e de um meio ambiente suficientemente preservado para atender as demandas humanas.

 Como se pode inferir, a sustentabilidadae alcança a sociedade, a política, a cultura, a arte, a natureza, o planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmente importa garantir as condições físico-químicas e ecológicas que sustentam a produção e a reprodução da vida e da civilização. O que, na verdade, estamos constatando, com clareza crescente, é que o nosso estilo de vida, hoje mundializado, não possui suficiente sustentabildade. É demasiado hostil à vida e deixa de fora grande parte da humanidade. Reina uma perversa injustiça social mundial com suas terríveis sequelas, fato geralmente esquecido quando se aborda o tema do aquecimento globl.

A outra categoria, tão importante quanto a da sustentabilidade, é o cuidado, sobre o qual temos escrito vários estudos. O cuidado representa uma relação amorosa, respeitosa e não agressiva para com a realidade e por isso não destrutiva. Ela pressupõe que os seres humanos são parte da natureza e membros da comunidade biótica e cósmica com a responsabilidade de protege-la, regenerá-la e cuidá-la. Mais que uma técnica, o cuidado é uma arte, um paradigma novo de relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os humanos.

 Se a sustentabilidade representa o lado mais objetivo, ambiental, econômico e social da gestão dos bens naturais e de sua distribuição, o cuidado denota mais seu lado subjetivo: as atitudes, os valores éticos e espirituais que acompanham todo esse processo sem os quais a própria sustentabilidade não acontece ou não se garante a médio e longo prazo. Sustentabilidade e cuidado devem ser assumidos conjutamente para imped ir que a crise se transforme em tragédia e para conferir eficácia às praticas que visam a fundar um novo paradigma de convivência ser-humano-vida-Terra.

A crise atual, com as severas ameaças que globalmente pesam sobre todos, coloca uma improstergável indagação filosófica: que tipo de seres somos, ora capazes de depredar a natureza e de por em risco a própria sobrevivência como espécie e ora de cuidar e de responsabilizar-nos pelo futuro comum? Qual, enfim, é nosso lugar na Terra e qual é a nossa missão? Não seria a de sermos os guardiães e e os cuidadores dessa herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram que é esse Planeta, vivo, que se autoregula, de cujo útero todos nós nascemos? É aqui que, novamente, se recorre ao cuidado como uma possível definição operativa e essencial do ser humano.

 Ele inclui um certo modo de estar-no-mundo-com-os-outros e uma determinada práxis, preservadora da natureza. Não sem razão, uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade e que culmina em Heidegger e em Winnicott defina a natureza do ser humano como um ser de cuidado. Sem o cuidado essencial ele não estaria aqui nem o mundo que o rodeia. Sustentabilidade e cuidado, juntos, nos mostram um caminho a seguir.

 Leonardo Boff é teólogo

Political Ripples of EU's Sovereign Debt Crisis

Interviewee: Franco Pavoncello, President, John Cabot University Interviewer: Christopher Alessi, Associate Staff Writer July 20, 2011


 With European leaders poised to hold an emergency summit (Reuters) Thursday on the widening eurozone debt crisis, officials remain concerned about possible contagion to Italy (NYT), the continent's third-largest economy. Italian Prime Minister Silvio Berlusconi earlier this month sharply criticized his finance minister (CNBC), jolting markets and sending interest rates on ten-year Italian bonds to a record high of 6 percent (Bloomberg). Berlusconi moved to calm markets by pushing a €45 billion (FT) austerity package through Parliament, staving off a crisis. Moreover, Italy has been able to avoid a sovereign debt contagion because, unlike Portugal and Greece, it is not burdened by massive foreign debt, argues Prof. Franco Pavoncello, president of Rome's John Cabot University. "The majority of debt in Italy is held by Italians, who will continue to buy Italian debt," says Pavoncello, who notes that political uncertainty is what undermined confidence in Italian markets. "With politicians at odds over how to solve the crisis, politics is back in the picture in terms of markets," he says. He predicts the sovereign debt fallout will force eurozone nations to adopt common political solutions, including euro bonds. Why does Italy suddenly appear so vulnerable to the widening European sovereign debt crisis? There are some long-term causes. This is a country with a very high public debt [120 percent of GDP], and a country that hasn't grown for ten years--basically, it's been a stagnating economy. These are background elements that certainly facilitated this skepticism, but the trigger was political. The markets felt that the government did not give guarantees of pushing through the [austerity measures] it was presenting. Berlusconi's comments about his finance minister [Giulio Tremonti] weren't encouraging to the markets, and the government itself has been significantly weakened in the past few months. So, people started dumping Italy more than shorting Italy. But then after the dumping of Italy came the shorting of Italy. The first move was by people who held Italian bonds. They just decided that the position of the government--and the political situation--wasn't very reassuring for them; that led to dumping, and then everybody betting against Italy. What can be expected of the austerity package that was passed last week? It will certainly help reduce the debt burden. Italy has a primary surplus [before interest payments]. So, this is not a country that has been undisciplined from that point of view. As a matter of fact, it comes right after Germany. It has a high debt that is creating problems for the surplus, and turning it into the negative. The kind of austerity that has been introduced, if followed properly, will lead to a balanced budget by 2014. This maneuver is full of cuts [targeting] the average middle-class family, but it doesn't really do very much in terms of improving the competitive qualities of the country, and to re-launch the production capacity of the country. And that is really something that has worried the markets. In a more general sense, politics has reentered the picture in a way that it has not since the creation of the euro. After the euro was created, and Italy entered the euro, it was thought in government that things were going to be decided in Frankfurt--and that there wasn't much of a difference that [domestic] politics could make in terms of the stability of countries. But now, with sovereign risk, and with politicians being at odds over how to solve the crisis, politics is back in the picture. The government we have in Italy today is problematic, because we have a prime minister who is riddled with scandals, a very weakened personality who has already declared that he will not run in 2013. And on the other side, there's an opposition which hasn't been able to put together a convincing alternative. What are the implications of Italy's weak productivity and competition in terms of the political and economic situation? After Italy entered the euro, it was thought in government that things were going to be decided in Frankfurt--and that there wasn't much of a difference that politics could make in terms of the stability of countries. But now, with sovereign risk, politics is back in the picture in terms of markets. We have a very strict bureaucracy with a lot of red tape, which makes private enterprise difficult and time-consuming. There is a very stiff labor market: Companies with more than sixteen people cannot fire workers. This rigidity is compensated with the use of temporary workers, who are never hired--because people are afraid to hire, because after three months, they are stuck forever with whomever they've hired. There are all sorts of imbalances from that point of view that could be addressed. There is a growing, widespread popular discontent against the political class, which is perceived as not providing the answers, but enjoying the benefits. That [discontent] might really develop in a very substantial fashion. I have never sensed this kind of disconnect between the average Italian and the political class sitting in Parliament. What could be the consequences of that disconnect? Something will have to give. I wouldn't be surprised after August to see an increasing volatility in politics. And we will be in a situation whereby spring 2012, we're going to have a national election. I don't see this government lasting another two years, given the atmosphere and the mood in this country. How do you see Italy's vulnerability affecting the rest of the eurozone? More than Italian vulnerability affecting the eurozone, it is the eurozone's vulnerability that is affecting Italy. We are beyond the eye of the storm as of now, for Italy. So, I don't think that we're going to see a systemic breakdown in Italy that's going to have a domino effect on Europe. So you think that the recently passed austerity measures, despite their imperfections, have pushed Italy back from the brink? It's not just that; the country just doesn't have the conditions to justify this onslaught, from an economic point of view. We're not talking about a country with a 20 percent deficit or a 10 percent deficit here, or heavy foreign indebtedness. The majority of debt in Italy is held by Italians, who will continue to buy Italian debt. There has been a very prudent handling of public accounts, which leads to a situation of balance, of a primary surplus that then becomes negative because of interest paid. But this is not a country that in the past years has continued to indebt itself. In fact, it has continued to decline. The message that parliament gave, by voting in three days--for these policies and this financial law--was a very clear message. What can be expected from the July 21 eurozone summit in Brussels, particularly with regards to a second bailout package for Greece? There is a growing feeling that if people decided to marry--they have married--they have to pool resources together, and protect each other, create a block bond situation, where you don't really need to see the inside of each single country. I'm not surprised that the talk about euro bonds is surfacing again. At the end of the day, there's got to be the creation of a common agency for debt. Given where we are with the euro, I don't see how else we're going to move ahead, because you can't expect people to ever say that as an option, for the next twenty years, they can work harder and harder to give money to foreigners. At the end of the day, Europe will find a way to bail out Greece. But are we going to try to create a more widespread system of debt guarantees, which will lower the cost of borrowing money on the systemic level and give a chance to everybody to belong to the exchange system, so that we move ahead as a unit? In one form or another, it is my belief that euro bonds will enter the picture. Europeans are not going to give up on the euro and the eurozone, and are not going to let it die; the cost of doing that would be enormous for those countries What, then, are the implications of this sovereign debt crisis for the future of the European project? What this crisis has generated is a fundamental question as to whether the eurozone experiment was correct, or was a terrible mistake and needs somehow to be eliminated. The sovereign crisis has raised the fundamental questions in the minds of the Europeans as to which direction they want to go--whether they want to deepen ties and integration among eurozone countries, or whether they want to just roll up the process, and find ways to get out of it. It has obliged Europeans to ask fundamental existential questions about themselves, as to whether they are indeed European, or whether they were just dreaming of being European--and, as such, turn back to being German, or French, or Italian. It is my deep conviction that Europeans have been affected by this decade of Europe, and are starting to understand that what happens on the continent is everybody's business. And that rather than going solo on the national level, it makes a lot more sense from a strategic and economic point of view to shoulder everyone's responsibility and to create a common area of wellbeing and growth and protection, because the alternative is going to be very nasty in the long run.

Why the U.S. Needs to Cut the Deficit

Interviewee: C. Fred Bergsten, Director, Peterson Institute for International Economics Interviewer: Christopher Alessi, Associate Staff Writer, Council on Foreign Relations 


 The White House put its full support behind a bipartisan deficit-reduction proposal (NYT) proposed July 19 by the Senate's so-called "Gang of Six," prompting renewed negotiations (Politico) between House Speaker John Boehner and President Barack Obama. But with the August 2 deadline to raise the nation's debt ceiling looming, Obama said he would accept a temporary plan (WSJ) to raise the ceiling, as long as Congress reaches an agreement on a long-term deficit-reduction program to be voted on shortly thereafter. Even if legislation is not passed immediately, the plan will not be shelved, says C. Fred Bergsten, director of the Peterson Institute for International Economics. He argues that the Gang of Six plan, the earlier Obama-Boehner talks, and the underlying recommendations of the Simpson-Bowles Commission "would continue to be debated very actively after the debt ceiling increase." Continued inaction on a comprehensive deficit-reduction package, Bergsten warns, endangers the United States' domestic economy and its standing in the world.

How does the Gang of Six plan compare to the compromise plan put forward by Senate Minority Leader Mitch McConnell (R-Ky)? The Gang of Six plan is far superior, because it would begin to address the substance of the issue. The problem at the moment has been conflated between two things: It's essential to raise the debt ceiling, which really has nothing to do with budget deficit. Tactically, people that want to reduce the budget deficit are using the deadline of the ceiling to try to get action on the substance of the issue--which is fine if you could do it, as long as it does not disrupt the essential raising of the debt ceiling. So, if a substantive, significant plan could be included in the legislation that goes through to increase the debt ceiling; that would be highly desirable. The McConnell plan does very little in that direction. The Gang of Six, which is based on the Simpson-Bowles Commission, would move importantly down that road. Which plan, if any, is more likely to be passed by both houses of Congress before August 2? The revealed preference in the past has been to kick the can down the road. That would suggest something like McConnell's, or even less ambitious, would be passed as kind of a fig leaf for just increasing the debt ceiling and waiting to a later day to really address the substantive issues. If they move forward with the McConnell plan, does the Gang of Six proposal get shelved, or does it get debated in Congress after the debt-ceiling deadline? There's still a lot of hope for the Gang of Six plan, or numerous other variants. If the McConnell plan goes forward as it's now configured, it would, in fact, set up a congressionally appointed commission--maybe to report by the end of the year--on a substantive program to then be voted next year, or at least debated in the 2012 campaigns. Neither party would explicitly say what many of them believe: "Let's debate this in the 2012 campaigns and defer serious action until 2013 or beyond"--partly for political reasons, partly because it would risk adverse market reactions if the message clearly went out that the U.S. was not going to address the budget substance for another couple of years. [However], the efforts of the Gang of Six and that of the earlier Obama-Boehner talks--and underlying all of that, the Simpson-Bowles Commission's recommendations--would continue to be debated actively after the debt-ceiling increase. How is the Gang of Six plan different from the Obama-Boehner "grand bargain"? In terms of broad categories, they seem roughly similar, i.e., a $4 trillion savings target, of which about $3 trillion [would be] due to spending cuts and about $1 trillion due to revenue increases. Those broad parameters are important. If there can be increasing consensus around those three basic elements of the package--the total and the breakdown, expenditures versus revenues--that would be already big progress. Within those, you could debate specifics, presumably without derailing the whole thing. Why are House Republicans like Majority Leader Eric Cantor more open to the Gang of Six proposal then they were to the so-called grand bargain, both of which include tax increases? To delay substantially further is quite risky, both in terms of the economic impact--it impacts our own economy--and related closely to it, our status in the world. It's totally unclear, except that, from a procedural standpoint, they might feel they had more potential input and impact on a process that evolved over, say, the next six month in the Congress--perhaps with a congressional commission itself, of which Cantor and his allies would presumably be apart. And do you think the United States will raise the debt ceiling before the August 2 deadline? It's highly likely--if not, within a day or two after that. It's highly likely that reason will prevail. What are the implications for the United States --domestically and internationally--if a more comprehensive package is not agreed upon now? It courts the risk that at some point the financial markets, which have been very good to the U.S. so far, could turn sour. It's impossible to know in advance how long the markets will continue to tolerate the high deficits and debt buildup that we're incurring. So far, money has continued to pile into treasuries, pile into the dollar internationally, so there's been no collapse of bond prices--no market disruption that could be traced to the debts and deficits. In part, it has occurred because the main competition--the euro and European assets, the yen and Japanese assets--have themselves been confronting a lot of economic problems. At least in the short run, greater than our own. So there's been no readily attractive alternative for people to move money out of the dollar, dollar assets, treasuries in particular. That could change from either side: either people all of a sudden get really nervous about the U.S., particularly if they think that kicking the can down the road one more time suggests that we'll always try to kick the can down the road and won't deal with it in 2013 either. And/or, the alternatives could start looking better. The Europeans are in deep trouble right now, but it's not impossible that they get their act together over the next year or two, shore up the weak countries, and resume some more-robust economic growth. It's impossible to know in advance how long the markets will continue to tolerate the high deficits and debt buildup that we're incurring. They are ahead of us in the policy cycle. They have begun to tighten their fiscal policies--even Germany and the UK, not just the weak sisters. The European Central Bank has begun to tighten monetary policies, has raised interest rates twice, clearly intends to do so more. If [Europe] can get its current debt crises behind it and resume a modicum of growth on par with ours, the world could turn in favor of the euro. And that could precipitate a substantial move out of the dollar, which would put a lot of pressure on our interest rates, our treasury securities markets, even our inflation rates--and through that, our economy as a whole. To delay [a comprehensive deficit-reduction package] substantially further is quite risky, both in terms of the economic impact--it impacts our own economy--and through that, and related closely to it, our status in the world. What are the potential national security implications for the United States if it does not address its deficit and debt issues? The longer we fail to address the budget deficit, the more and continuing pressure there will be on the defense budget, the foreign aid budget--the whole range of foreign affairs expenditures. In fact, one key reason we need to get a comprehensive, coherent, and effective budget program in place is so that we can then have some certainty about the foreign affairs and national security component of the budget going forward. If it's constantly under pressure--you don't know what might prevail, what might be cut--it's going to undermine the rational implementation of foreign policy. The indirect effect--and that may even be more powerful -- is related to the image of the United States' ability to address what's obviously a crucial national problem: an apparent unwillingness to get our house in order and curtail our appetite for excessive government expenditure; our unwillingness to tax ourselves to an extent required to pay for at least the large bulk of our own spending; and a revealed preference to keep borrowing from the rest of the world. There are a whole variety of features that undermine the United States in the world, and, therefore, our foreign policy and our national security. If the Europeans get their act together, they'll start to look better. But even if the Europeans don't, the continued rise of China in particular--but the emerging markets more broadly--will just be magnified if the United States seems to be impotent in dealing with its own problems. The emerging markets are growing three times as fast as we are; they are already half the world economy. Their share is growing 2 or 3 percent each year, [and] in the future, they will be two-thirds of the world economy. And the adverse impact that will have on our image, our share of the world economy, our clout in the world--all of that gets magnified to the extent that we're unwilling, or unable, to take responsible actions to put our own house in order.

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