Saída da cooperação internacional desafia sustentabilidade de ONGs no Brasil


A primeira mesa do seminário Sustentabilidade das ONGs no Brasil: acesso a recursos privado contou com a participação de Neylar Lins, da Fundação Avina e da Articulação D3 (Diálogo, Direitos e Democracia), e André Degenszajn, do GIFE (Grupo de Instituições, Fundações e Empresas). Ambos mostraram pesquisas de suas respectivas instituições que confirmam a tendência de queda de aporte da cooperação internacional no Brasil.


De acordo com a pesquisa de caráter exploratório realizada pelo D3 com uma amostra de 41 ONGs, houve uma redução de 18,67% nos investimentos da cooperação internacional entre 2008 e 2010, o que contraria a tendência de alta observada até 2009.

“Os motivos principais observados são a crise econômica de 2008, mas apenas acelerando a tendência de mudança estratégica da cooperação internacional; as mudanças de prioridade geográfica, com aumento do investimento em países da África e da Ásia e a melhora nos indices brasileiros, mudanças estratégicas das próprias agências, o que aumentaria também as chances de captação interna”, esclarece Neylar.

A pesquisa indica que a maioria das agências passaram a atuar na África e diminuíram os aportes para o Brasil, mas apenas uma deixou de atuar no país durante o período. A previsão é que até 2015, 15% das agências deixam de fazer qualquer tipo de investimento no país. “A maioria não vai deixar o país de uma vez. Elas têm planos de nacionalização de capitais”, diz Neylar.

Outro problema apontado por Neylar diz respeito à diversificação de fontes de recurso. A pesquisa aponta que as maiores financiadoras não diminuíram os investimentos, mas que o corte nos aportes das menores é que resultou em queda da participação da cooperação internacional no orçamento ONGs brasileiras. Entretanto, como aponta Neylar, apenas três agências representam 50% do aporte de recursos no país: “a dependência de três organizações também é problemática”.

As novas prioridades destes aportes também têm impacto direto em algumas instituições. A pesquisa da D3 mostrou que a cooperação internacional tem priorizado cada vez mais investimentos em projetos ligados à educação, meio ambiente e sustentabilidade, enquanto alguns setores como os ligados a direitos têm tido muita dificuldade em receber apoio. Em termos geográficos, a prioridade tem sido as regiões Norte e Nordeste do Brasil.

“A pesquisa é importante porque olha para o impacto sobre as organizações, sobretudo as de direitos, e, ao mesmo tempo, tenta traçar estratégias comuns para a transição com a retirada da cooperação internacional. Essa ideia de colocar alguém do GIFE, que vem da iniciativa privada, marca um momento novo que acompanha a pesquisa”, completa Neylar.

Cooperação nacional
Para André Degenszajn, a situação atual é muito importante para o GIFE, tanto quanto é para as organizações da sociedade civil que neste momento precisam se repensar. “Fizemos um leitura próxima da do D3, mas qual é a implicação disso para o GIFE e para o papel de promover o investimento social privado?”, se pergunta.

De acordo com o último levantamento do GIFE, as empresas brasileira mantiveram o aporte de recursos mesmo durante a crise econômica. Entre 2008 e 2009, houve uma variação de apenas 5 % no total de investimentos. Para Degenszajn, o investimento social privado já é uma realidade nas empresas. “O investimento não foi cortado totalmente, mas proporcionalmente aos outros setores, que também tiveram cortes”, diz.

Degenszajn destaca que sempre que se fala em investimento social privado, se pensa em investimentos empresariais, mas que ele não é a única fonte de financiamento: “no caso do GIFE, 85% é de origem empresarial. Neste caso, o que está em jogo é a divulgação da marca. Mas existem outras origens como fundações comunitárias, fundos independentes, doações de pessoas físicas”.

Para ele, isso mostra o potencial de diversificação das fontes de recursos privados. “Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 10% dos investimentos sociais privados vêm de empresas.

Sustentabilidade
Para Vera Masagão, integrante da diretoria executiva colegiada da ABONG e diretora da  Ação Educativa, os dados apontados por Neylar Lins e por André Degenszajn só ressaltam a importância de diversificação das fontes de recurso para a sustentabilidade e para garantir a liberdade política de atuação.

De acordo com ela não devemos lamentar o “bye bye Brasil” dos recursos da cooperação internacional, pois “a cidadania hoje é planetária e o Brasil não pode abrir mão da importância que tem que tem nessa processo, com o FSM, por exemplo. Devemos mudar nossas relações com os investimentos sociais internacionais, não mais como pedintes, mas numa posição de horizontalidade”.

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