União Européia: Quando o sonho virou pesadelo




Atualmente, quando se fala de integração europeia, três grandes perspectivas quase que imediatamente vêm à tona: paz, crescimento e prosperidade. Estes aspectos são intimamente interligados e podem ser referidos como cooperadores para uma mesma necessidade mais básica, a segurança.

As razões pelas quais os Estados que haviam sido inimigos durante vários séculos se uniram para cooperar foram diveras. A primeira razão era a situação devastadora na Europa no final da Segunda Guerra Mundial, que chamou a atenção de líderes politicos como Konrad Adenauer, Robert Schuman e Jean Monnet, dentre outros,para a construção de um novo modelo de cooperação.

A outra razão finalmente foi a pressão externa, exercida principalmente pelos

Estados Unidos, que não só queriam evitar a eclosão de outra guerra dentro do continente europeu, mas que também viu uma Europa unida como um baluarte contra a nova ameaça comunista representada pela União Soviética. Assim, houve uma motivação interna e outra externa que influenciaram a ideia de segurança cooperativa na Europa.


Mas o que devemos esperar em relação ao futuro da Europa quando nos referimos à sua integração? O lema da União Europeia -Unidade na Diversidade- parece cada dia mais distante da realidade dos cidadãos comunitários e o que se percebe é que os discursos dos representantes des vários Estados da Europa,contrastam com seus antecessores,onde se torna mais comum a intenção de proteger os interesses nacionais.



As Ilhas Canárias, o Estreito de Gibraltar e o mar Negro foram nos últimos anos, zonas de intensa imigração ilegal, pelo qual com o novo sistema de vigilância, Eurosur, que deverá começar suas atividades nos primeiros meses, centrará o atendimento principalmente nessas zonas. Os dados sobre ingresso de estrangeiros ilegalmente no continente assustam as autoridades: em 2010, somente na Grécia, entraram 80 mil imigrantes de forma ilegal, oriundos principalmente da Albânia, Somália, Afeganistão e Iraque; também chegaram muitos palestinos.



Assim, em meio à onda de manifestações no mundo árabe Médio Oriente, e a tentativa de entrada de egípcios e tunisianos na Europa, muitos de maneira ilegal, alguns líderes do Velho Continente, como o premiê britânico David Cameron, ou o presidente francês Nicolas Sarkozy, admitiram que o “multiculturalismo” não alcançou o êxito esperado nas sociedades européias.



Na mesma direção, a chanceler alemã Angela Merkel se tornou o pivô de um polêmico debate sobre a integração dos estrangeiros, ao exigir que os imigrantes aceitem os valores da Alemanha, ao mesmo tempo em que qualificou de “fracasso” o modelo de uma sociedade “multicultural”.



A situação, como não podia ser de outro modo, traduz-se também em movimentos políticos. Durante as últimas eleições municipais na Espanha já foi possível registrar um aumento do volume eleitoral dos partidos de ultra direita, ainda que minúsculos. Na cidade de Valencia, por exemplo, a organização fascista Espanha 2000 organiza atos públicos contra os imigrantes, e seus militantes percorrem habitualmente as ruas numa caminhonete aos gritos de “fora os imigrantes que roubam o trabalho dos espanhóis”.



Como forma de remediar este problema, os países da União Européia, e as próprias instituições comunitárias, estão substituindo hoje o termo “multiculturalismo” por “interculturalismo”, que defende a presença de diferentes culturas, ao mesmo tempo, a prevalência dos valores e a cultura da “maioria histórica”. O problema é que as tendências demográficas da União produzirão uma mudança dessas maiorias, onde em algumas cidades e bairros alemães é absolutamente impossível não encontrar uma massiva imigração turca. O mesmo acontece no Reino Unido com os paquistaneses e na França com os imigrantes oriundos do norte da África.



As políticas imigratórias nos países da União Européia se centraram em promover, através, sobretudo de subvenções, a convivência de umas comunidades junto a outras. O que se viu, no entanto, é que em lugar de fomentar a integração, isto deu lugar à separação de comunidades étnicas que compartilham o mesmo espaço, mas não se comunicam nem encontraram elementos de identidade comuns.

Some-se a esse quadro, a falta de igualdade de oportunidades no mercado trabalhista e políticas educativas errôneas que produzem o isolamento e, em alguns casos, o ressentimento de imigrantes de segunda geração que mal dominam a língua do país onde residem e pagam impostos. Para evitar esse ressentimento é fundamental deslegitimar as idéias etnocêntricas, algo que não fizeram Cameron, Merkel, nem Sarkozy com seus discursos.

A dureza da crise econômica vivida pela UE -que está dando lugar a um nacionalismo que nutre posturas populistas em todos os países da União- e o crescente peso que estão ganhando os partidos de extrema direita aumentam a intolerância com relação às diferenças religiosa e cultural. O resultado deste quadro parece complicar-se ainda mais, dificultado a vida daqueles imigrantes que fogem da pobreza e da insegurança, mas ao chegar a Europa encontram um pesadelo e não um sonho.



João Bosco Monte é Professor da Universidade de Fortaleza



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