Ameaças de Pyongyang aos Estados Unidos e à Coreia do Sul colocam Pequim
em situação difícil, com o desafio de manter o apoio ao aliado de longa
data e, ao mesmo tempo, sustentar a paz na região.
O regime de Kim Jong-un tem rendido manchetes quase diárias aos jornais.
Em uma única semana, anunciou a retomada das atividades na usina de
nuclear em Yongbvon, congeladas até então há seis anos; bloqueou o
acesso de trabalhadores sul-coreanos ao parque industrial Kaesong;
cortou a última linha de comunicação direta com o sul; e anunciou que os
militares têm sinal verde para um ataque nuclear contra os Estados
Unidos.
Os alertas e apelos da comunidade internacional foram solenemente
ignorados– não importando se vieram do secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon; do secretário de Defesa americano, Chuck Hagel; ou da
presidente sul-coreana, Park Geun-hve.
Da China – que apoiou sanções à Coreia do Norte após os testes nuclear e
com foguetes de longo alcance – não chegaram mais do que palavras de
alerta. O porta-voz da Chancelaria de Pequim, Hong Lei, qualificou a
situação na península como "delicada" e "difícil", e considerou
“lamentável” o plano norte-coreano de expansão nuclear.
As provocações à comunidade internacional do regime de Kim Jong-Un preocupam a China, seu maior aliado.
Dilema chinês
Para o professor Jian Cai, do Instituto para a Coreia da Universidade
Fudan de Xangai, a intenção de Pyongyang de reiniciar as atividades na
usina nuclear de Yongbyon foi um "rompimento clamoroso” do que ficou
acordado em 2007 nas chamadas 'negociações de seis lados' – realizadas
entre Coreias, Japão, EUA, Rússia e China.
A China, segundo Cai, se encontra em um verdadeiro dilema quanto ao seu
problemático vizinho. Pequim quer evitar a guerra porque, caso o pior
venha a acontecer, soldados chineses terão que lutar lado a lado com os
norte-coreanos contra os EUA.
"Como aliado de longa data, a China está decepcionada com a atitude de
Pyongyang. O governo entende que o país tem sido ingrato com os
chineses, que sempre lutaram para manter a estabilidade na região",
opina.
Para ele, é importante que Pyongyang esteja ciente das consequências de
seus atos, o que explica o apoio da China às novas sanções do Conselho
de Segurança, que, de certa forma, rompe com a postura antes adotada.
Mas, mesmo assim, ressalta, Pequim continuará do lado dos
norte-coreanos.
"A China não vai desistir da Coreia do Norte sob circunstância alguma", afirma.
O governo de Pyongyang bloqueou o acesso ao parque industrial Kaesong.
Vizinho problemático
O jornalista Zhangjin Huang, editor-chefe adjunto da revista Phoenix Weekly, também não acredita em grandes mudanças na postura do governo chinês.
"Está claro para o governo que a Coreia do Norte é um vizinho
problemático, mas para um Estado socialista como a China, Pyongyang
representa uma ameaça muito menos significativa do que um país liberal e
democrático", opina.
A China espera, obviamente, que Pyongyang reconsidere suas atitudes.
Mas, se isso não vier a acontecer, existem, na opinião de Huang, dois
piores cenários possíveis: "O que a China não quer é a unificação das
duas Coreias. Pior ainda seria se os EUA e a Coreia do Sul viessem a
destruir o regime de Kim Jing-un."
Em todo caso, o que a China deseja basicamente é paz e calmaria em sua
vizinha, o que as últimas semanas têm provado que, ao menos a curto
prazo, será difícil de ser alcançado.