De olho no sonho brasileiro

Valor Econômico

O americano Christopher Kohl fez MBA na FIA, em inglês. Logo depois, começou a trabalhar na filial paulistana da consultoria Grant Thornton. "O curso me ajudou a conhecer o mercado e a fazer contatos"
Regis Filho/Valor / Regis Filho/ValorSexta maior economia mundial, alvo de grandes investimentos e com uma enorme carência de mão de obra qualificada, o Brasil vem se tornando o centro das atenções para executivos de todo o mundo que buscam boas oportunidades profissionais. As expectativas otimistas, porém, podem ser frustradas. O país tem um mercado reconhecidamente fechado para estrangeiros- a falta de domínio do português e de conhecimento sobre os negócios locais ainda são barreiras. Buscando contornar esse desafio, profissionais da Europa e dos Estados Unidos estão apostando nos cursos de MBA ministrados em inglês para abrir portas para trabalhar por aqui.

Um exemplo é o aumento da procura pelo curso International MBA Full Time na Fundação Instituto de Administração (FIA). No último ano, o número de candidatos estrangeiros cresceu 30%. O programa dura um ano e tem aulas em período integral. Metade da turma de 30 pessoas é formada por alunos de fora. "O objetivo é manter esse equilíbrio para fazer com que exista uma troca de experiências", afirma James Wright, coordenador do Programa de Estudos do Futuro da FIA. Segundo ele, boa parte dos alunos internacionais espera poder conquistar um emprego no país com o MBA.
Esse é o caso do americano Christopher Kohl, que conseguiu o posto de gerente na filial paulistana da consultoria Grant Thornton quase imediatamente após concluir o MBA na FIA. Com experiência internacional prévia - ele já atuou nos Estados Unidos, Caribe, Uruguai e Montenegro, na ex-Iugoslávia -, ele decidiu tentar trabalhar no Brasil depois de ter visitado o país como turista durante 12 anos. "Dois anos atrás, estava procurando uma oportunidade em São Paulo e achei que um programa de MBA seria interessante", conta. Então sem fluência no português, Kohl optou pelo curso em inglês, mas com enfoque no ambiente de negócios do Brasil. "Ele me ajudou a aprender mais sobre o mercado local e a fazer contatos", diz.

Executivos experientes como Kohl, porém, não são os únicos que têm se animado a investir em educação continuada no país. De acordo com Julia Pacheco, coordenadora de relações internacionais da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), tem havido um notável aumento da procura por parte de profissionais estrangeiros com até três anos de experiência. Geralmente, eles optam pelo mestrado profissional de dupla titulação, em inglês. "Como temos parcerias com 26 universidades, eles vêm de diversos países", explica. A escolha de fazer parte do programa no Brasil, segundo Julia, é motivada pela esperança de entrar depois no mercado de trabalho. A prova disso tem sido a alta demanda por parte de universidades parceiras em transferir estudantes para temporadas no Brasil. "Isso cresceu tanto que precisamos recusar alunos de intercâmbio", diz Julia.

Mariana Barros, sócia-diretora da Differänce, consultoria especializada em assistência a expatriados, diz que usar os estudos como porta de entrada pode ser mais difícil do que parece. Segundo ela, os estrangeiros têm uma visão romântica do país. "Eles são atraídos por notícias de crescimento, mas na prática, precisam lidar com burocracia, diferenças culturais e altos custos de vida".

Ao decidir fazer um MBA em São Paulo em 2010, a executiva tcheca Hana Mrkvickova estava animada com a possibilidade de trabalhar no país e assim conhecer melhor a cultura de negócios latino-americana. Os objetivos profissionais foram alcançados - Hana fez um estágio durante o curso e, logo depois, conquistou uma posição na FBM Consulting, graças a um projeto feito durante o MBA. Ela, no entanto, se surpreendeu com a dificuldade em obter visto de trabalho e com os altos preços de produtos e serviços. "Por essa razão, precisei começar a trabalhar o mais rápido possível", diz.

A decisão de vir ao Brasil para estudar e só depois tentar um trabalho, no entanto, deu certo. "Foi mais fácil começar como estagiária e depois apresentar o projeto de consultoria. Assim, o mercado pôde me conhecer melhor", diz.

Movimentos como o de Hana, segundo Mariana Barros, ainda são exceção. O maior volume de transferências internacionais, segundo ela, é de empresas que trazem profissionais de outras unidades de negócios no exterior. Os cursos, no entanto, podem ser uma boa chance de conhecer o Brasil e se familiarizar com a cultura e o mercado de trabalho local.

As escolas de negócios brasileiras, entretanto, não são os únicos alvos dos executivos que pretendem trabalhar no país. O crescimento do interesse pela região fez com que instituições de ensino internacionais como a UCLA Anderson School of Management e a Iese Business School também desenvolvessem programas com foco na América Latina. O objetivo é promover uma imersão dos alunos em temas como macroeconomia, cultura empresarial e o 'jeitinho' de fazer negócios no Brasil.
No mês passado, 20 alunos da UCLA Anderson se dividiram entre São Paulo e Rio de Janeiro com o objetivo de visitar empresas brasileiras como Vale, Itaú e Odebrecht e conhecer um pouco mais do 'país por trás do mito'. A comitiva é parte do módulo brasileiro do programa Global Executive MBA for the Americas, uma parceria entre a UCLA e a Universidad Adolfo Ibañez, do Chile. O curso, que está em sua primeira turma, se divide em módulos ministrados em Los Angeles, Miami, São Paulo, Rio e Santiago. "Os alunos querem estar onde há crescimento, por isso precisamos incluir mercados como o Brasil e a China nos programas globais", justifica a reitora Judy Olian. Desde 2004, a UCLA já possui programa similar na Ásia.

A maior parte dos alunos do programa da UCLA estava no Brasil pela primeira vez, mas com grandes expectativas. No caso do engenheiro Christopher Meanz, gerente geral da chilena SW Factoring, o programa pode ser útil não só para fazer negócios, mas para ajudar a conquistar uma futura posição no país. "É um mercado gigante e cheio de oportunidades", diz.

Yerling Vallejos, gerente de franquias da Yum! Brands International na Flórida, diz que um MBA com módulos no Brasil faz o executivo estrangeiro se familiarizar com o país. "Minha empresa tem negócios por aqui, então tenho chance de tentar um posto no futuro. O curso é o primeiro passo."

No caso dos estudantes latino-americanos, a opção por um MBA no Brasil ainda tem como vantagem a proximidade cultural e geográfica. "A possibilidade de viajar para o Brasil ao invés dos Estados Unidos é uma ótima oportunidade", afirma Érica Rolim, diretora do Iese Executive MBA, programa que está abrindo a primeira turma no país. Dentre os candidatos estão peruanos, chilenos e uruguaios, além dos espanhóis e portugueses. O curso de 20 meses será em inglês, português e espanhol. "O lançamento de um MBA Executivo com perfil global é uma resposta às novas exigências do ambiente de negócios do Brasil", diz.

A reitora Judy Olian, da UCLA, explica que é visível o aumento do interesse dos alunos em trabalhar em mercados 'menos tradicionais'. "Depois da recessão de 2008, as pessoas reconheceram que as oportunidades estão distribuídas pelo mundo e as carreiras estão mais globais."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

FACEBOOK