Parque de São Bartolomeu - Pirajá: Uma Reserva da Biosfera da Mata Atlântica esquecida pelo poder público.

Parque São Bartolomeu – Pirajá


Histórico:

A comunidade de Pirajá, palavra indígena que significa “viveiro de peixes”, é um bairro que está localizado às margens da Mata Atlântica, na borda leste da Baía de Todos os Santos. (um dos últimos pedaços desta mata que ainda restam no Brasil.) No século passado, Pirajá desenvolveu-se em função do crescimento desorganizado da cidade para a zona norte, e integrou-se à paisagem urbanística da antiga metrópole do primeiro vice-reis do Brasil.
A região do Parque de Pirajá de 1.550 Ha, esta marcada com fatos históricos e relevantes, como cenário em 1633, para o primeiro sermão proferido em público na Bahia pelo Padre Antonio Vieira, a Batalha de Pirajá pela independência da Bahia. O Parque de Pirajá fica numa das regiões mais pobre da capital soteropolitana, com uma população de quase 40 mil habitantes e tem como vizinhos o Subúrbio federal e o bairro de Valéria, Rio Sena e o Condomínio Porto Seco – Pirajá, somando um total de 800 mil habitantes. A região do parque é composto etnicamente de 80% de descendentes afro- brasileiros.

A área onde estão situados a Colina de Pirajá e do Vale do Rio do Cobre apresenta um triplo interesse para a Bahia: Interesse como cenário das lutas da independência, interesse ecológico e paisagístico como uma das ultimas reservas biológicas situadas em Área metropolitana de Salvador e a última cortina verde entre a cidade e o Centro Industrial de Aratu e por ultimo o interesse religioso. Por esta razões o parque foi escolhido como uma das três áreas piloto da Reversa da Biosfera da Mata Atlântica na Bahia, unindo-se a um esforço conjunto de 14 Estados brasileiros, do Governo Federal e do programa “ O homem e a Biosfera” (MAB), DA UNESCO.
                                                                  
O vale do rio do Cobre está desde longa data associada ao culto das religiões afro- brasileira e ca
da elemento e acidente assumem uma significação simbólica particular que marca o local como sagrado. Podemos assim identificar nomes como Fonte dos Milagres, Bacias de Ogum, Oxum e etc. Naquele local estava situado o Quilombo dos urubus. Originalmente, por ser uma área de muitas riquezas naturais, foi um sítio da aldeia dos índios Tupinambás.

A iniciativa do Governo do Estado da Bahia de transformar o Vale do Cobre em reserva biológica, consubstanciada pelo Plano diretor do Centro Industrial de Aratu, somaram-se à proposta de “Criação do Parque Histórico da Independência da Bahia” durante o II Encontro de Governadores para a preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural Nacional. Outros dispositivos foram o decreto municipal nº 4.355 de 06.11.1972 criando o parque Histórico de Pirajá, seguindo da desapropriação de 750,000 metros quadrados no Vale do Rio do Cobre para implantação do parque municipal.

30 anos de diálogo e abandono:

Esse foi o tempo necessário para o Parque São Bartolomeu entrar no processo de degradação social, ambiental e histórico. Hoje o parque encontra-se sufocado por um super bolsão de pobreza e miséria e dominado pela violência. Na atual conjuntura é claro o abandono do parque nos últimos 30 anos. Infelizmente a historia do Brasil foi esquecida e porque não dizer negado a atual juventude baiana e brasileira, por grupos de interesse, que a rigor, promovem especulações e re-direcionar os investimentos para regiões que provavelmente não irá trazer benefícios para os soteropolitanos.

Um bom exemplo aconteceu em 2000 quando um empréstimo de US$ 49 milhões de dólares para o financiamento do Projeto de Desenvolvimento Integrado em Áreas Urbanas Carentes no Estado da Bahia, foi repassado segundo o Banco internacional de reconstrução e desenvolvimento (BIRD), para revitalização do Parque São Bartolomeu. A verba para as obras, de R$ 15,6 milhões, e nada foi visto na região, ou seja, estes valores não chegaram aos beneficiários finais – a comunidade local.

Recentemente o Governo do Estado da Bahia através da CONDER que viabilizou um montante de 80 milhões de reais para revitalização do Parque de São Bartolomeu, lembrando que 60% deste valor é oriundo do Banco Mundial e o restante 40% do Governo do Estado. Este valor é referente a urbanização do parque, construção de um residencial com 350 apartamento, de um centro cultural e revitalização do parque e remoção da população que reside dentro e no entorno do parque.

O parque é a expressão das contradições de uma cidade marcada por um crescimento desordenado e segregador de numeroso contingente da população e pela ambigüidade do poder público, que oscila entre a indiferença, o abandono e o aceno de intervenções insensíveis aos valores e significados culturais da área, que é concretamente, um território étnico repleto de referências sócio-religiosa afro-brasileiro.

Essa contradição fica claro com o abandono total dos instrumentos de planejamento e manutenção da biodiversidade e das representações culturais e o desenvolvimento integrado das potencialidades do parque nas dimensões ecológica, histórica, religiosa, lúdica, produtiva, artística e cientifica instituída pela UNESCO.

É possível um parque sustentável e turístico?

Os investimentos de 80 milhões de reais anunciado diretor habitacional da Conder, Ubiratan Cardoso, diz que 60% dos recursos são oriundos do Banco Mundial, com contrapartida de 40% do governo do estado.

Não basta revitalizar e construir estruturas na região, é necessário uma ação mais eficaz do governo do Estado. Qualquer intervenção é vista como arriscada, uma vez que o Parque é também um sítio arqueológico e guarda segredos da nossa cultura e religião.


Um projeto para parque São Bartolomeu -Pirajá deve ser visto pela ótica ambiental e arqueológica. Uma proposta para assegurar uma revitalização do parque sustentável seria a regeneração através de técnicas de permacultura e engenharia verde. A regeneração inclui o reflorestamento do Parque e das áreas desocupadas, a despoluição das cachoeiras, lagos e do Rio do Cobre. Podemos citar como um exemplo a ser seguida a estratégia de desenvolvimento das Olimpíadas de Londres 2012.

De acordo com o diretor de Sustentabilidade e regeneração urbana das Olimpíadas de Londres 2012, Dan Epstein, o projeto foi possível, através de uma articulação de atores sociais e políticos. Pensar numa estratégia sustentável é regenerar e construir usando materiais reciclável, no último Fórum Mundial de Sustentabilidade ocorrido em março de 2011 na cidade de Manaus, Epstein apresentou projeto olímpico de Londres 2012, um projeto que regenerou uma das regiões mais pobre de Londres e transformou em referência em planejamento urbano verde .

Outro efeito para o desenvolvimento de Pirajá é o Turismo cívico, religioso e étnico, o que poderá impulsionar o desenvolvimento da região do Parque, principalmente Pirajá. Para tanto ainda é preciso uma mobilização dos atores sociais e profissionais para galgar um projeto de projeção turística do parque de Pirajá.

Considerações

O parque de Pirajá oferece hoje, à Cidade de Salvador, a oportunidade de reencontro com as suas mais caras raízes. Ao mesmo tempo, e não contraditoriamente, oferece a possibilidade única de fazer um gesto na direção ao desenvolvimento sustentável e coeso, colocando governo, cidadãos, em sintonia com os apelos que se põem na contemporaneidade: A busca de uma nova relação com a natureza, na perspectiva de torna viável um projeto de viabilidade econômica e turística integrada a um projeto de revitalização do Parque de Pirajá.

Glauber Machado

Estudante de Relações Internacionais pela Unijorge, Consultor em permacultura e design de sustentabilidade e coordenador do Projeto Escola do Grupo de voluntários de Salvador do Greenpeace Brasil.


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