Século 21: 10 anos de turbulências



A primeira década do novo milênio está acabando. É difícil singularizar os eventos mais significativos desses 10 turbulentos anos. Ainda assim, seria impossível deixar de mencionar ao menos 2 -- divisores de água e que influenciarão determinantemente os próximos decênios. O primeiro é a diminuição relativa do poder dos EUA no mundo. O segundo, a aceleração das plataformas multimídia e as consequências sociais e econômicas desse processo.

O ataque da Al-Qaeda, de Bin Laden, em 11 de setembro de 2001 mudou para sempre a face dos conflitos humanos. Os EUA não tiveram uma bomba lançada contra seu território continental na 1ª nem na 2ª Guerra Mundial. A queda das Torres Gêmeas do World Trade Center justificou um orçamento de defesa de US$ 1 trilhão ao ano para os EUA. Precipitou a invasão do Afeganistão e do Iraque. Implementou a doutrina dos ataques “preemptivos” e guerra ao terror.


Envolveram os EUA numa onda de simpatia e solidariedade internacional após os ataques e, nos anos posteriores, num crescente isolamento no concerto de nações. Resultado: a subsequente derrocada de sua economia e de seu prestígio na cena global.

Também a queda da primazia de Wall Street e de alguns ícones do capitalismo financeiro, como o Bear Sterns ou Lehman Brothers, varreu o mapa. Contribui para a diminuição relativa da contribuição da economia norte-americana ao PIB mundial. Pior, abalou a autoconfiança norte-americana e seu estilo de fazer negócios. Além disso, a ascensão dos BRICs, reconhecidos pelos próprios EUA como as economias mais dinâmicas dos próximos 40 anos, mudou a percepção do equilíbrio geoeconômico.

Em conjunto ou individualmente, Brasil, Rússia, Índia e China oferecem um extraordinário desafio em termos de cooperação ou atrito com os EUA, na tecnologia ou nos direitos humanos, no comércio ou no xadrez político.

Esta primeira década do novo milênio foi também a da dinâmica estonteante de novas tecnologias da informação e da sociedade multimídia. Crise foi a palavra de ordem para publishers no mundo inteiro. Momento, como sugeria Antonio Gramsci, em que o velho ainda não morreu e o novo tampouco nasceu.


Foi a década em que se perguntou: “Qual o futuro da mídia?” No nascente século 21, percebemos que a maior empresa de mídia, o Google, não produz um único grama de conteúdo sequer. Jornais comem poeira da TV, rádios, *Instant Messengers* e de noticiosos on-line nos chamados “furos”, cada vez mais raros na mídia impressa. Na Wikipedia, a enciclopédia colaborativa on-line, há 12 vezes mais verbetes do que na Enciclopédia Britânica, com diferencial de erros desprezível. O New York Times tem, em 2010, apenas 30% da circulação paga que apresentava em 2001.


No Brasil, onde a densidade digital da sociedade ainda é relativamente baixa, a venda de celulares ultrapassa a de computadores, que, por seu turno, supera a de televisores. Neste ano, um em cada 4 indivíduos no planeta encontra-se plugado na internet. Twitter e Facebook transformaram-se em ferramentas corriqueiras.

Não é apenas a mídia que mudou, mas também a origem e os destinos da informação. A origem, há um tempo restrita à redação própria de cada jornal, hoje está no universo de sites, agências de notícias, blogs, universidades, nas empresas de qualquer ramo. Circula, enfim, no ciberespaço. O destino, na mesma medida, que segmentava por mídia o tipo de consumidor em suas várias formas (leitor, ouvinte, telespectador, internauta, etc.), condensa-se progressivamente graças à convergência tecnológica.


O aparecimento dos tablets e leitores digitais (iPad, Galaxy, Kindle, Nook, Kobo) só acelera esse processo. É uma revolução com ramificações que vão além da tecnologia. Pessoas andam na rua como “zumbis” dedilhando seus smartphones. Os tablets dão acesso gratuito aos tesouros da literatura universal. Experiências educacionais e de entretenimento multimídia são verdadeiramente possíveis.

Assim, na economia política global ou nas novas tecnologias, há um cenário inédito. É nele que o Brasil e as empresas brasileiras haverão de inserir-se. Na próxima década, não faltarão grandes obstáculos – e imensas oportunidades.

Marcos Troyjo é Diplomata, economista e cientista político. Pesquisador-visitante da Universidade Paris V (Sorbonne). E-mail: troyjo@post.harvard.edu

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