A abstenção da ONU perante o genocídio de Ruanda em 1994



A abstenção da ONU perante o genocídio de Ruanda em 1994 Ruanda é um País localizado no centro-leste do continente africano, limitando-se ao norte com Uganda, ao sul com Burundi, ao leste com Tanzânia e ao oeste com Zaire. É um país que passou por um grande problema étnico que já vinha causando transtornos antes mesmo que os Belgas dessem a independência, em 1962, cujo poder ficou na mão dos tutsis (grupo étnico com status superior, aproximadamente 14% da população), na figura do Presidente era o Grégoire Kayibanda. Em 1972, o Comandante Juvenal Habyarimana – hutu (grupo étinco com status inferior, aproximadamente 85% da população) – e Ministro da Defesa, na época, promoveram um golpe de Estado. Após a vitória dos hutus, eles começam a usar o poder contra os tutsis, fazendo eles sofrem e dificultando suas vidas. Isso foi uma forma [errônea] de se vingarem de todos os anos que os tutsis detiveram o poder e fizeram essa diferenciação/discriminação dos grupos étnicos (hutu e tutsi).

Os anos foram se passando e, em 1973, cansados de serem marginalizados, os tutsis se organizaram militarmente (com especial apoio da China) para tentar um golpe de Estado, mas o intento fracassou. Em 1991, sob pressão dos países que auxiliavam financeiramente o governo ruandense, para que houvesse pluripartidarismo (democracia), os hutus e tutsis “aceitam” essa abertura política, mas na realidade eles eram contra a abertura, eles só aceitaram, pois estavam correndo o risco de perderem os investimentos. Os extremistas de cada lado ficaram indignados com essa mudança política, cada etnia formou grupos para acabar com os moderados (pessoas mais acessíveis, mais propícias ao diálogo, abertas a negociação) passando a cometer diversos assassinatos para que os moderados não assumissem o poder.

No ano de 1993, a Organização das Nações Unidas (ONU), envia uma Missão de Assistência para acompanharem os acordos entre os tutsis e hutus, entre eles o Acordo de Arusha, assinado na Tanzânia, que estipula: “a formulação de governo transitório com participação de representantes da guerrilha, bem como a criação do exército nacional integrado por tropas regulares e combatentes da RPF (Frente Patriótica de Ruanda ou Ruandesa)”, com apoio da ONU, que estabeleceu a Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda (em inglês, United Nations Assistance Mission for Rwanda – UNAMIR).

Em 06 de abril de 1994, o avião que trazia os Presidentes, Cyprien Ntaryamira (Burundi) e Juvenal Habyarimana (Ruanda), é atingido por um míssil perto do aeroporto de Kigali-Ruanda, matando todos os tripulantes. A substituta para o cargo de Presidente era a Primeira-Ministra Agathe Uwilingiyimana (que era uma Hutu moderada), quando a escolta da ONU (aproximadamente 15 soldados) juntamente com a Guarda Presidencial chegam à sua residência, no dia seguinte da morte do Presidente Habyarimana, a Guarda Presidencial obriga os soldados da ONU a entregar as suas armas e assassinam a chefe de Estado de fato de Ruanda, Agathe Uwilingiyimana, eliminando a possibilidade de novos acordos serem formulados. A partir daí, em 1994, se dá início [digamos que formal] ao genocídio em Ruanda. As tropas da ONU estavam presentes e assistiam aos assassinatos, mas não puderam fazer nada para impedir esse genocídio, pois eles estavam com ordens de apenas assistir os acordos, validar o Acordo de Arusha.

O Comandante da Missão (UNAMIR) Roméo Dallaire, relatou o fato e a situação de Ruanda para seus superiores e obteve a resposta para que não fizessem nada e só usassem a força caso fossem atacados (revidar para se defender) e para que não interferissem no “problema interno”. Durante esses dias de conflito, foi solicitado o envio de mais tropas, para reverter à situação e restabelecer a paz, mas o pedido foi negado. Alguns soldados Belgas foram assassinados. O atentado contra a tropa Belga, foi à gota d’água para o governo da Bélgica [que tentou solucionar a crise, sem sucesso] acabasse retirando seus soldados de Ruanda. A tropa belga era o “esqueleto” da UNAMIR. Dias mais tarde, a ONU decide reduzir as suas tropas da missão em 90% [oficializando a posição da ONU sobre o genocídio, não querendo interferir].

Fazendo uma análise no papel da ONU perante o genocídio - que por sinal ela não reconheceu como tal, pois se o reconhecesse seria obrigada a

interferir e restabelecer a paz em Ruanda – o fato de existir a abstenção no envio de mais tropas da ONU, no leva a imaginar que a ONU não é mais imparcial, no sentido de separar as suas missões, da influência de seus maiores financiadores e não ter mais voz ativa em suas decisões, pois se ela for contra um ideal de um de seus membros, ela estará assinando a perda de parte de seu capital (para seus projetos, manutenção da instituição, missões de manutenção de paz...). Por causa desse e de outros fatores, a ONU perdeu o sentido de existir, pois já que seu principal objetivo, que é a manutenção da paz no mundo e preservação dos Direitos Humanos, fracassou [fechou os olhos para Ruanda nesse genocídio], será que podemos confiar na ONU num próximo conflito, ou ela vai proteger, estar do lado de quem tem mais poder (financeiro e militar, em especial).

Hoje a ONU não possui a mesma moral que antes e foi responsabilizada pelo genocídio. Os cidadãos de Ruanda reelegeram Paul Kagame (tutsi), que está no poder desde 2000, através de eleições democráticas que se realizaram no dia 09 de agosto de 2010, na qual foi assistida por organizações e observadores internacionais, que relataram tranquilidade durante o pleito.

Rodrigo Marques Piva é graduando de Relações Internacionais

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