EUA veem risco de '11 de Setembro' no Brasil, diz documento diplomático

Correspondência secreta foi divulgada neste domingo (12) pelo site WikiLeaks.
 

Correspondências diplomáticas secretas divulgadas pelo site WikiLeaks neste domingo (12) mostram que os Estados Unidos se preocupam com a possibilidade de um ataque terrorista com aeronaves civis contra alvos no Brasil, em ações similares aos atentados de 11 de setembro.

O telegrama do então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, enviado no dia 28 de março de 2009, relata o roubo de um avião monomotor na cidade Luziânia (GO), a pouco mais de 50 km de Brasília, no dia 12 daquele mês. A aeronave, tripulada apenas pelo piloto e por sua filha de cinco anos, caiu no estacionamento de um shopping center de Goiânia. Ambos os ocupantes morreram.

Sobel diz que, embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha seguido corretamente os procedimentos da chamada Lei do Abate - que permite aos militares derrubar aviões que representem algum tipo de ameaça -, a longa cadeia de comando exigida para o abate - incluindo a necessidade de uma ordem presidencial - pode representar um risco à segurança da capital.

- Os procedimentos até a decisão de derrubada mostram a vulnerabilidade a potenciais ações terroristas, uma vez que a decisão não teria sido tomada a tempo de impedir o piloto, caso ele quisesse jogar seu avião contra outro prédio, inclusive em Brasília.
Na ocasião, o comando da FAB ordenou a decolagem de dois aviões de caça para interceptar o monomotor sequestrado. Primeiro, um jato Mirage 2.000 foi designado para perseguir e tentar se comunicar com o piloto. Depois, uma aeronave T-27 Tucano - mais adequada à baixa velocidade da interceptação - tentou fazer o mesmo.
Os caças carregavam armas e estavam prontos para derrubar o pequeno avião, mas, enquanto a discussão passava do comando da Aeronáutica ao ministro da Defesa e, depois, ao presidente Lula, o monomotor caiu em Goiânia.
A Lei do Abate, aprovada em 1998 e regulamentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004, foi criada principalmente para dar mais poder à FAB diante de traficantes de drogas que utilizam pequenos aviões para o transporte. Na visão do então embaixador americano, esse aspecto pode representar um risco diante de ameaças terroristas.

Essa vulnerabilidade decorre do fato de os procedimentos de derrubada terem sido desenvolvidos contra traficantes da vasta região Norte do país, e não contra possíveis ataques a cidades.

Sobel afirma, por fim, que a FAB considera os procedimentos da Lei do Abate adequados, mas opina que pode ser necessário ao Brasil "acelerar o processo de decisão durante uma eventual ameaça terrorista".

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