Candidatos a líderes globais, emergentes carecem de estratégia conjunta



De um início tímido, o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) passou a ter futuro promissor. Em seu quinto encontro de cúpula nesta terça-feira (18/10) em Pretória, na África do Sul, os líderes das economias emergentes se unem para afinar suas ideias sobre os problemas que afligem o globo.

O presidente sul-africano, Jacob Zuma, recebe Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, com uma agenda focada nos desafios econômico-financeiros, paz e segurança internacionais. Da Índia, Absheek Barua, economista do HDFC, um dos maiores bancos daquele país, resume as expectativas: "O mundo espera que esses países liderem o crescimento mundial, enquanto os outros lutam para não afundar ainda mais".

Sobre o alinhamento da chamada parceria Sul-Sul, Barua diz que a fragilidade das nações tradicionais do Norte criou o momento ideal para que esses emergentes "levantem a voz" e criem uma "frente unificada para garantir que a crise atual não afete seus interesses." Barua completa: "E está claro que essa liderança é brasileira", ressaltando que a iniciativa foi lançada em 2003 pelo ex-presidente Lula.

Muita conversa
Esse comando brasileiro é visto com reservas por Adriana Erthal Abdenur, coordenadora do BRICS Policy Center. "Num contexto atual, a tentativa do Brasil de formular uma assistência de solução para a crise na Europa, por exemplo, não foi adiante", comenta.

Na visão de Abdenur, há muita retórica e ausência de uma estratégia concreta. Na última reunião do Fundo Monetário Internacional, em Washington, Guido Mantega, ministro brasileiro das Finanças, falou em propostas dos emergentes para auxiliar os europeus endividados. No entanto, comenta Abdenur, "estava claro muito antes da reunião que os outros governos emergentes não estavam de acordo".

O motivo de tal falha estaria na falta de comunicação. "É preciso que os países do IBAS e do BRICS entendam o posicionamento de cada um e encontrem uma equivalência. Caso contrário, a situação nunca vai evoluir dessa retórica de liderança."

Embora Dilma Rousseff e o governo chinês já tenham oferecido "uma mão" para a União Europeia sair da crise, essas administrações têm problemas internos para combater. A China já declarou como inimiga momentânea a inflação, África do Sul e Índia também disseram que a prioridade é diminuir a pobreza e outras questões internas antes de intervir no cenário internacional.

"E, sem esses outros emergentes, o Brasil fica sem dentes para atuar com mais força em nível global. Existe toda essa retórica de liderança, mas, na prática, no caso brasileiro, ela se restringe mais à America Latina", opina Abdenur. O especialista indiano acrescenta: é bom que essas nações se cuidem para que a crise mundial não afete suas economias. "Se isso acontecesse, todo o cenário internacional mudaria", diz Barua.

IBAS x BRICS
Os especialistas concordam que o IBAS é uma plataforma importante de cooperação para que seja formada essa estratégia, que falta no momento. E o fortalecimento do grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul não faz concorrência ao BRICS, que além desses três países conta ainda com China e Rússia.

"Os governos brasileiro, indiano e sul-africano são democráticos, então o alinhamento político, que não acontece necessariamente entre os BRICS, é mais fácil no IBAS", explica Abdenur. Mas para que se concretizem as aspirações dos emergentes, de se assentarem como líderes mundiais, é preciso que "resultados concretos saiam do papel", comenta.

Um tema que poderia avançar, por exemplo, seria uma proposta sólida de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, lembra a pesquisadora: todas as nações do IBAS são atualmente membros não permanentes. Absheek Barua também cita outras oportunidades de cooperação real: "Já passou da hora de esses países imporem de fato uma maior regulação do mercado financeiro e do fluxo de capitais. Eles não podem deixar que os problemas do Norte afetem os interesses do Sul."

Por "interesses do Sul", Barua cita medidas comerciais que afetam a exportação de commodities, protecionismo das potências tradicionais em áreas como agricultura e boicote em organizações internacionais, como o Conselho de Segurança.

O projeto de cooperação mais bem-sucedido do IBAS foi a criação do fundo para Alívio da Fome e da Pobreza, em 2004. Com iniciativas em seis países, como Haiti e Guiné-Bissau, o fundo foi premiado em 2006 pela ONU e, no ano passado, ganhou o prêmio “Metas de Desenvolvimento do Milênio”.

Autora: Nádia Pontes

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