Análise: Arábia Saudita x Irã, a Guerra Fria do Oriente Médio



às 22h50m
Angus McDowall, jornalista da Reuters especializado em Oriente Médio

A rivalidade entre os vizinhos Arábia Saudita e Irã entrou numa nova e perigosa fase depois de os EUA acusarem Teerã de planejar a morte do embaixador saudita em Washington. O suposto complô, negado com veemência por Teerã, ocorre num momento crítico na chamada guerra fria do Oriente Médio, que opõe o reino árabe sunita da Arábia Saudita contra a majoritariamente persa e xiita República Islâmica do Irã.


Ainda é cedo para dizer se o aumento da tensão entre os dois principais países produtores de petróleo da Opep levará a retaliações, mas com os dois apoiando lados contrários nas confusas lutas sectárias que envolvem Iraque, Líbano e Bahrein, as apostas na estabilidade do Oriente Médio dificilmente seriam altas.
Reforçando as preocupações sauditas há o medo de que o Irã possa estar usando o programa de energia nuclear para desenvolver uma bomba atômica que alteraria a dinâmica do poder no Golfo Pérsico. Teerã afirma que o seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.

Foi a Revolução Islâmica no Irã, em 1979, que repentinamente modificou as relações entre os dois países, antes descritos como "pilares gêmeos" que garantiam a segurança americana no Golfo. Embora os poderosos clérigos wahhabistas da Arábia Saudita tenham sempre considerado herege a escola xiita de islamismo, eles viam o xá como uma barreira contra qualquer incursão comunista de inspiração soviética no Oriente Médio.

Para os revolucionários que criticavam o imperialismo ocidental nas mesquitas de Teerã, a família governante saudita representava uma monarquia corrupta que protegia interesses ocidentais.

Mas nos palácios de mármore de Riad, o temor de que a República Islâmica pudesse exportar sua revolução no Oriente Médio estimulou uma estratégia de contenção, que incluiu o apoio a Saddam Hussein no Iraque nos oito anos de guerra contra o Irã.

Quando os EUA e seus aliados derrubaram o regime sunita de Saddam Hussein em 2003, a Arábia Saudita e o Irã trocaram acusações de apoio a grupos que defendiam seus interesses em meio ao caos. Teerã emergiu como vencedor estratégico com a saída de seu inimigo mortal Saddam e a eleição de um governo xiita em Bagdá. Um dos temores agora é que a tensão possa se traduzir em violência em países nos quais o Irã e a Arábia Saudita apoiam facções rivais.

Com os levantes árabes desafiando a ordem estabelecida ao longo do Oriente Médio, o confronto entre a Arábia Saudita e o Irã se aguçou. Protestos da maioria xiita contra a monarquia sunita no Bahrein foram vistos em Riad como prova da interferência iraniana.

Em Teerã, as autoridades divulgaram informes de diplomatas americanos, revelados pelo grupo WikiLeaks, de que líderes sauditas pediram que Washington atacasse suas instalações nucleares. Segundo o WikiLeaks, um defensor de uma postura mais dura dos EUA contra o Irã era o embaixador saudita Adel al-Jubeir, o alvo do suposto complô de assassinato.

"Tiraram as luvas", disse Ali Ansari, diretor do Instituto para Estudos Iranianos na Universidade St. Andrews, na Escócia. "O risco no momento é que não se tenha um confronto EUA-Irã, mas um confronto Arábia Saudita-Irã, que é mais perigoso porque os sauditas são mais agressivos ao defenderem suas posições."

 

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