Exemplos opostos no descarte do lixo mostram que consciência é o primeiro passo

Em Salvador, a consciência - ao contrário do que muitos imaginam - não está diretamente relacionada ao poder aquisitivo


Na batalha para extinguir o mau hábito de jogar lixo na rua, é preciso estar atento para não seguir exemplos que prejudicam não só a saúde da própria população como a estética da cidade. E a consciência - ao contrário do que muitos imaginam - não está diretamente relacionada ao poder aquisitivo.


Na rua do Jaracatiá, no Caminho das Árvores, bairro de classe média alta, um acúmulo de lixo tem incomodado moradores e pedestres que passam pelo passeio.


Na Caixa D’Água, moradores compraram câmeras e aproveitam para monitorar o lixo

Enquanto isso, no Caminho das Árvores, moradores de prédio de luxo jogam o lixo na rua

Na manhã de ontem, o CORREIO esteve no local e encontrou caixas de madeira, um colchão velho e lixo comum deixados em uma parte da rua que fica atrás da Subprefeitura do bairro. “Os moradores vêm e jogam o lixo. Geralmente, a prefeitura retira pela manhã, mas tem vezes que leva até uma semana para retirarem”, conta um segurança da região que pede para não ser identificado.

Ainda de acordo com ele, são os próprios moradores do entorno que depositam o lixo no local. “Acontece com frequência. Os moradores fazem limpeza no prédio e jogam aí na rua, esperando que a prefeitura retire. A prefeitura tem que colocar uma placa e fazer todo dia uma fiscalização”, acrescenta.

Praça

Além da rua Jaracatiá, o lixo fica próximo também da praça São Vicente. “O pessoal é mal-educado e joga o lixo no chão. Infelizmente, quando um começa, os outros seguem o mau exemplo”, reclama Valdetrudes Barbosa, 48 anos, dono de uma banca de revistas localizada na praça.

Enquanto varre o passeio em frente à banca, seu Dedé, como é conhecido, diz ainda que até a praça costuma sofrer. “Tem dias que fica completamente suja. Até restos de comida eles jogam no chão. A praça fica abandonada e a prefeitura tinha que fiscalizar mesmo. Já as pessoas têm que ter mais educação. O povo não respeita”, complementa. De acordo com a Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), a coleta de lixo no bairro é feita sempre às segundas, quartas e sextas-feiras.


BBB lixo

Enquanto alguns moradores de bairros nobres transformam ruas em depósitos de lixo a céu aberto, o bom exemplo vem de áreas onde o sistema de coleta de lixo é menos eficiente.

No Loteamento Joana D'Arc, na rua Manoel Mário de Lima, na Caixa D'Água, a vizinhança recolhe lixo e capina os jardins. Dos 330 moradores, 230 contribuíram para comprar um computador e oito câmeras de segurança, distribuídas ao longo dos 3 quilômetros da via. A ideia inicial era cuidar da segurança, mas a tecnologia serviu para melhorar a limpeza do local.

Eles ainda pagam vigilantes - um durante o dia e quatro à noite -, e compraram rádio- comunicadores. O material começou a ser adquirido há três anos e já foram investidos cerca de R$ 10 mil. “Cada um dá a quantia que pode. É tudo iniciativa da comunidade. Fomos comprando aos poucos”, disse o comerciante Osmar de Souza, 50 anos.

Da venda do comerciante, onde fica o computador, ele monitora as imagens e aciona um vigilante quando alguém joga lixo no chão. “Quando vemos, falamos pelo rádio e tiramos na hora. A população não pode esperar o poder público, temos que fazer nossa parte”, argumentou. Às 19 horas, quando o caminhão da Limpurb passa, os moradores são orientados a colocar o lixo na frente das casas.

Na Rua José Mariz Pinto, na Baixa de Quintas, a associação de moradores desembolsou no mês passado R$ 320 para limpar a via. Segundo o presidente da entidade, o funcionário público Jorge Ubirajara Lopes, 49 anos, o funcionário da Limpurb tirou férias e não foi substituído. “Pagamos R$ 80 por semana para um rapaz. É um absurdo que a população faça o traballho dos governantes”, reclamou. A associação também limpa a praça esportiva, que tem um quiosque e um campo de terra. “A prefeitura vem um dia sim e outro não e só limpa o asfalto”.

Desorganização afeta coleta

O descarte de lixo de forma desorganizada acaba gerando um efeito dominó. Essa é a opinião de Ângelo Castro, gerente operacional da Revita Engenharia, uma das concessionárias da Limpurb.



Responsável por coordenar a coleta de lixo em pelo menos dez pontos de Salvador, ele destaca que a desorganização é o principal problema enfrentado pelos funcionários da empresa que mensalmente retiram das ruas 46 mil toneladas de sujeira. “Obedecendo um roteiro, o caminhão passa às 9h e faz a coleta da rua. Se 20 minutos depois alguém joga entulho em outro ponto, outra pessoa vai e joga ali mais lixo”, explica.

O vandalismo é outro problema. Vários equipamentos instalados para limpeza urbana são destruídos diariamente (lixeiras e caixas). Pode não parecer, mas a falta de vagas para estacionamento é mais um empecilho. “As ruas são usadas como estacionamento, impedindo o acesso dos caminhões. Isso é muito comum no Imbuí, no Rio Vermelho e no Caminho das Árvores”.

Os estabelecimentos comerciais são também vilões dessa história suja. “Os donos de restaurantes e bares deixam os resíduos à mostra nas calçadas”, aponta. Castro lamenta ainda ação dos catadores informais, que acabam espalhando o lixo quando vasculham as lixeiras.

O gerente da Revita destacou que, por conta da quantidade de lixo despejada nas ruas, em alguns locais a coleta é realizada até três vezes no mesmo dia durante a semana. De acordo com um levantamento realizado no ano passado pela empresa de consultoria Price Waterhouse Coopers, enquanto em São Paulo e Rio de Janeiro 90% da coleta é feita em dias alternados e apenas 10% tem coleta diária, em Salvador, 64% do lixo é coletado todos os dias.


No Calabar, lixo fica entre escola e posto de saúde

Nem a presença de secretários do Estado fez com que o monte de lixo que fica em frente à Escola Aberta do Calabar fosse retirado do local ontem. Na mesma área, fica o posto de saúde que serve à comunidade.

Problema ficou visível após ocupação policial permanente no bairro

Desde terça-feira passada, quando as polícias Civil e Militar iniciaram a ocupação do Calabar para a implantação de uma Base Comunitária de Segurança, a mudança do local de depósito de lixo é uma reivindicação dos moradores. Na visita de ontem, os secretários conversaram com líderes comunitários e viram de perto os principais problemas do bairro, para desenvolver ações específicas através de suas pastas.

“O Calabar é um lugar sagrado, descende de um quilombo. Queremos dar início aos serviços de cidadania”, disse o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Almiro Sena. Além dele, foram até o bairro os secretários Carlos Brasileiro, de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, e Vanda Sá, de Promoção da Igualdade. Raimundo Nonato Tavares, o Bobô, titular da Superintendência de Desportos do Estado (Sudesb), também esteve presente no encontro, junto com representantes das secretarias da Educação, Saúde e Cultura

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