Em meio a tantas incertezas no horizonte econômico, alguns eventos desta semana, além do Oscar, vieram sem a menor surpresa. A alta da Selic e a evolução do PIB em 2010 também eram pedras cantadas. E não surpreenderam.



José Paulo Kupfer



Em meio a tantas incertezas no horizonte econômico, alguns eventos desta semana, além do Oscar, vieram sem a menor surpresa. A alta da Selic e a evolução do PIB em 2010 também eram pedras cantadas. E não surpreenderam.



O PIB do ano passado, entre outras coisas, é do ano passado. Dirigir o carro sem olhar o retrovisor é risco que não se deve correr. Mas, deve ser uma olhada meio rápida, mais para posicionamento, porque, se não olhar para frente, o risco de colisão é ainda maior.


Para frente, o que a evolução do desempenho mostra é uma taxa de investimento em recuperação até forte, mas ainda insuficiente para garantir um crescimento muito além de uns 4% numa base média anual. A economia pode ir mais que isso por um tempo, mas não será com conforto. E se acelerar muito mais vai produzir fricções inflacionárias que levarão a breques inevitáveis. Avançar como montanha-russa não é o melhor. Desse jeito, o “pibão” de hoje pode ser a véspera do “pibinho” de amanhã.



O investimento, entendido, simplificadamente, como o valor do estoque de capital fixo (máquinas, equipamentos e construções) em relação ao PIB, registrou, em 2010, um aumento recorde de 22% – o mais alto desde o início da série estatística iniciada em 1996. No ano, a taxa ficou em 18,4% do PIB, um salto considerável, na comparação com 2009, quando a economia andou de lado e até um pouquinho para trás. Mas, ainda não chegou aos 19,1% do PIB alcançados em 2008.



Recentemente, o BNDES divulgou um levantamento das intenções de investimento até 2014. Foram mapeados diretamente aplicações em aumento de capacidade de produção num total de R$ 1,6 trilhão. Mas a estimativa da instituição é de que o total em jogo chegue a R$ 3,3 trilhões, o que levaria a taxa de investimento em 2014 a 22,4% do PIB. Com essa taxa, as possibilidades de que o crescimento da economia escale níveis médios anuais superiores a 5% ou 6% se tornariam mais palpáveis.



O problema é a concretização das intenções de investimento e mesmo do que está planejado e ou até decidido. O financiamento dessa montanha de dinheiro convive com incertezas derivadas da concentração de linhas de longo prazo no BNDES. Além disso, subsistem dúvidas sobre a capacidade gerencial de executar os investimentos previstos, com a devida e adequada oferta de fatores de produção adequados – a começar da qualificação da mão-de-obra e incluindo a desburocratização dos processos.



Evitar a sequência de “pibões” e “pibinhos”, no fim das contas, exige mais do que contrações fiscais e monetárias para ajustar a demanda à capacidade de produção existente. O ideal é que esse manejo não seja necessário – pelo menos no ritmo de gangorra que conhecemos. Mas, para isso, uma parte que seja dos holofotes da política econômica teria de se deslocar, de verdade, para o lado da oferta.



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