Desafios para a profissão de Relações Internacionais: Regulamentar as funções? A regulamentação da profissão assegura o mercado de trabalho?

Qual o campo de atuação que poderia ficar aos cuidados exclusivos do especialista em Relações Internacionais?

No ano de 2000 a FENERI (Federação Nacional dos Estudantes de Relações Internacionais) manifestou postura contrária à proposta do Deputado Antônio Carlos Konder de regulamentar a profissão de Relações Internacionais. O referido projeto de lei, de autoria do Deputado acima mencionado, previa a autorização para criação de Conselhos Federais e Regionais de RI, bem como tratava da especificidade do exercício da função do internacionalista. A questão em discussão levantou dúvidas com relação aos prejuízos decorrentes da delimitação de atuação do profissional de Relações Internacionais, e a consequente perda da característica multidisciplinar da profissão.

Um outro ponto argumentado foi a análise de que não basta que a profissão que visa ser regulamentada tenha a exigência de conhecimentos técnicos e científicos específicos, mas que o seu exercício, quando praticado de forma inadequada ou inconsequente, possa vir a causar danos para a sociedade. É óbvio que, se analisado por essa ótica, as referidas competências do internacionalista, por si só, não são suficientes como pressupostos para que esta categoria profissional venha a ser regulamentada. A vantagem que a profissão oferece com sua multidisciplinaridade curricular também abre espaço para interpretações que avaliam que as atividades mercadológicas desenvolvidas pelo internacionalista não podem ser consideradas de competência privativa do profissional em relações internacionais sob pena de configurar, erroneamente, uma reserva de mercado à categoria, em detrimento de outros profissionais que poderiam exercer essas atividades sem prejuízo à coletividade.

Diante dessas questões acima mencionadas, e pelo fato de RI ser uma área recente como ciência específica, ficam algumas perguntas: Regulamentar a profissão garantirá mais espaço no mercado de trabalho? É necessário criar conselhos e especificar áreas para atuação exclusiva do internacionalista? A multidisciplinaridade do profissional se descaracterizará após a regulamentação da profissão?

O que se pode dizer em concreto é que o mercado de trabalho está em crescimento contínuo, mas outros profissionais continuam assumindo espaços que poderiam ser destinados aos especialistas em Relações Internacionais. A formação acadêmica no Brasil muitas vezes acaba interpretando equivocadamente a multidisciplinaridade da área como falta de foco científico específico, e como consequência muitos cursos de RI acabam se transformando em "colchas de retalhos" de outras áreas do conhecimento, e os alunos saem da graduação sem saber para que estudaram tantas áreas diversificadas, e como devem usar esses conhecimentos em suas funções e atividades profissionais.

Falta foco na ampliação da área de trabalho para os internacionalistas, ainda é muita baixa a preocupação com a abertura do mercado de trabalho local, e existe pouca pesquisa sobre as oportunidades e especificidades regionais para exercício da profissão.

Sendo assim, pode-se concluir que é importante continuar discutindo democraticamente a necessidade ou não de regulamentação da profissão de Relações Internacionais, mas é fundamental e urgente que as IES, os alunos e interessados na área permaneçam focados na abertura, ampliação e solidificação do reconhecimento mercadológico das capacidades e qualificações do internacionalista. É necessário que se compreenda de uma vez por todas que o mercado de trabalho deve ser o agente sustentador da continuidade dos cursos e do exercício da profissão no Brasil.

Por Soraya Pessino
Professora do Centro Universitário Jorge Amado, curso de Relações Internacionais e Assessora de Relações Internacionais da Prefeitura Municipal de Salvador.

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