fonte: BBC BRASIL
A decisão do Ministério dos Transportes de Israel de instituir ônibus separados para trabalhadores palestinos da Cisjordânia que vão trabalhar dentro do território israelense gerou acusações de "apartheid e segregação" contra o governo do país.
Nesta segunda-feira, o Ministério dos Transportes inaugura novas linhas de ônibus, especiais para trabalhadores palestinos que têm permissão para trabalhar em Israel. Elas sairão de diversos pontos de checagem militares na Cisjordânia em direção a Tel Aviv.
A iniciativa é o resultado de pressões por parte de líderes de colonos israelenses que moram em assentamentos na Cisjordânia e alegaram que a viagem de israelenses e palestinos nos mesmos ônibus constitui um "risco à segurança" dos colonos. Até hoje os trabalhadores palestinos pegavam os ônibus em pontos na estrada no norte da Cisjordânia. Esses ônibus, destinados principalmente aos colonos israelenses que moram na região, também têm pontos dentro dos assentamentos, mas os palestinos não têm autorização para entrar nessas áreas.
Melhoria de serviço
A inauguração das novas linhas foi divulgada por intermédio de panfletos, distribuídos nos pontos da Cisjordânia, somente no idioma árabe, informou o site de notícias Ynet.
De acordo com o jornal Haaretz, a polícia se prepara para implementar a separação entre as populações e, se um palestino for identificado dentro de um ônibus "normal", os policiais lhe pedirão para descer e esperar o ônibus "especial".
Mas o Ministério israelense dos Transportes afirmou que "não há qualquer instrução para impedir os trabalhadores palestinos de viajarem nas linhas de transporte público em Israel ou na Judeia e Samária (nome bíblico para Cisjordânia)".
"As novas linhas de ônibus têm o objetivo de melhorar o serviço para os trabalhadores palestinos que entram (em Israel) pelo ponto de checagem de Eyal (perto da cidade de Qalqylia, no norte da Cisjordânia)", diz a nota do Ministério.
Louisiana
O professor de Direito da Universidade de Tel Aviv Eyal Gross afirma que a decisão de instituir ônibus separados para palestinos e colonos "lembra a segregação racial nos Estados Unidos em 1896 e aproxima Israel do apartheid (da Africa do Sul)".
Em artigo no Haaretz, o jurista afirma que "em Israel estamos voltando no tempo para 1896: palestinos são instruídos a descer dos ônibus na Cisjordânia, e o Ministério dos Transportes institui linhas de ônibus separadas para palestinos".
Em 1896, a Suprema Corte do Estados Unidos emitiu uma sentença rejeitando um recurso contra a separação entre brancos e negros nos trens do Estado da Louisiana (sul do país).
Na época, os juízes afirmaram que o argumento de que a separação forçada constitui uma ofensa à igualdade, pois coloca os negros em uma situação de inferioridade, "não se baseia em fatos, mas sim na escolha dos negros de adotarem essa interpretação".
"O episódio dos ônibus é apenas mais uma camada na anexação de fato dos territórios (ocupados) a Israel, anexação que é acompanhada pela instituição de um regime de segregação – obviamente desigual – entre judeus e palestinos", acrescentou Gross.
Na Cisjordânia já existe uma rede de estradas exclusivas para a circulação de carros com placas israelenses e nas quais veículos com placas palestinas não podem transitar.
Cerca de 380 mil colonos israelenses que moram em assentamentos na Cisjordânia estão subordinados à lei civil de Israel. Já os 2,5 milhões de palestinos dessa região estão sujeitos à lei militar que vigora no território, no qual a autoridade principal é o Exército de Israel.