Brasil tem 5ª maior presença diplomática na África



Dilma desembarca em Pretória na Africa do Sul, para participar da V Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do IBAS. Foto: Stuckert Filho/PR/Divulgação
Dilma desembarca em Pretória na Africa do Sul, para participar da V Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do IBAS
Foto: Stuckert Filho/PR/Divulgação

Ao fazer sua primeira visita à África como presidente nesta semana, Dilma Rousseff (PT) desembarca em um continente muito mais familiar à diplomacia brasileira do que quando seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a Presidência, em 2003. Segundo um levantamento do Itamaraty obtido pela BBC Brasil, o País hoje tem embaixadas em 37 das 54 nações africanas, das quais 19 foram inauguradas desde o início do governo Lula.
Entre os países não africanos, o Brasil só possui menos embaixadas no continente do que Estados Unidos (com 49 missões), China (48), França (46) e Rússia (38). Ainda conforme o levantamento, o Brasil está à frente de outros dois países emergentes que têm buscado estreitar as relações com nações africanas: a Índia, com 27 missões, e a Turquia, que, ao erguer 20 das suas 31 embaixadas na África nos últimos três anos somou-se ao grupo de nações que cortejam o continente.
A abertura de embaixadas brasileiras na África foi acompanhada de um movimento recíproco: desde 2003, 17 missões de países africanos foram inauguradas em Brasília, somando-se às 16 que já existiam. Segundo Gert Wunderlich, executivo do banco sul-africano Standard Bank, a ofensiva diplomática brasileira na África é parte da política do governo de diversificar os parceiros comerciais do País, tradicionalmente dependente da Europa e dos Estados Unidos.
"O governo brasileiro viu na África uma oportunidade para que o País avançasse em sua ambição de se tornar mais globalizado", diz Wunderlich, que vive em São Paulo. Os esforços diplomáticos se refletiram nas trocas comerciais: em 2002, o intercâmbio do Brasil com o continente somava US$ 5 bilhões (cerca de R$ 8,7 bilhões); em 2008, passou para US$ 26 bilhões - quase metade dos US$ 56 bilhões do comércio entre Brasil e China em 2010.
Após um esfriamento das relações comerciais nos dois anos seguintes, efeito da crise econômica internacional, o governo espera neste ano bater o recorde de 2008, já que nos seis primeiros meses de 2011 as trocas entre Brasil e África alcançaram US$ 17 bilhões (R$ 29,5 bilhões).
África lusófona
A visita da presidente ao continente africano começa nesta segunda-feira pela África do Sul, onde ela participará de um encontro do Ibas (fórum que reúne Índia, Brasil e África do Sul), para discutir temas como segurança e desenvolvimento sustentável, além de parcerias comerciais. Na quarta-feira, Dilma viaja até Moçambique para assinar acordos de cooperação técnica e se reunir com empresários brasileiros.
Além de patrocinar a construção de uma fábrica de retrovirais, que deve ser inaugurada em 2012, o Brasil mantém com Moçambique programas de cooperação agrícola e uma linha de crédito de US$ 300 milhões (R$ 521 milhões). A visita ocorrerá em um momento de incremento das relações empresariais: em julho, a mineradora brasileira Vale inaugurou em Moçambique sua maior operação no exterior - a mina de carvão em Tete (província no norte do país), que já é a segunda maior mina de carvão a céu aberto do mundo.
Empresas brasileiras também estão envolvidas na construção ou reforma de uma termelétrica, uma ferrovia, um porto e um aeroporto no país africano. Na quinta-feira, Dilma visitará Angola, o segundo maior produtor de petróleo da África Subsaariana. O país tem cerca de 25 mil trabalhadores brasileiros, segundo estimativa da Associação dos Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran).
Competição
Cobiçada por seus recursos naturais - além de petróleo, o país tem vastas reservas diamantíferas, terras férteis e água abundante -, Angola é palco de uma competição que se replica em diferentes graus em vários países africanos e que tem como protagonista a China. No entanto, segundo um diplomata brasileiro, a crescente influência chinesa em Angola e no continente africano não ameaça o espaço conquistado pelo Brasil.
Ele afirma que, embora o Brasil não possa competir com a China em oferta de crédito aos países africanos nem em capacidade de construir grandes obras - o país asiático costuma levar operários chineses para as nações africanas onde investe em troca de matérias-primas -, a maneira de atuar brasileira confere uma relação mais sólida com seus pares. "Os africanos sentem que, com os brasileiros, participam de uma conversa entre iguais, o que jamais ocorrerá com os chineses", afirma.
Ele diz ainda que, além dos bons resultados comerciais, a aproximação diplomática dos últimos anos já trouxe ao Brasil benefícios em palcos internacionais, como o apoio de vários países africanos à bem-sucedida candidatura do brasileiro José Graziano à direção da FAO (agência da ONU para agricultura), em junho.
Para Gert Wunderlich, ainda que o governo brasileiro receba críticas pela ênfase que dá às relações com países subdesenvolvidos - particularmente os africanos - trata-se de uma aposta para o futuro. Ele afirma que a África abriga um sexto da população mundial e será uma das regiões do mundo que mais crescerão nas próximas décadas. "Se o Brasil estiver lá e construir relações com os países, terá vantagem competitiva em relação aos que não fizerem isso. Ou então a China e a Índia vão ocupar todos os espaços", diz.

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