Ministro da Fazenda afirmou que emergentes terão pouco a fazer se países europeus não solucionarem problemas da dívida soberana
O Brasil apresentou condições para apoiar um potencial plano de ajuda à zona do euro que envolveria outros grandes países em desenvolvimento, pedindo que o bloco primeiro encontre soluções concretas para a crise da dívida soberana, segundo informações do ‘Wall Street Journal’.
"A Europa precisa salvar a si mesma porque tem instrumentos para resolver os problemas da dívida soberana da Grécia e de outros países e o problema de fragilidade de bancos", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista à Dow Jones e ao WSJ. "Se eles não solucionarem os problemas, os países emergentes terão pouco a fazer, porque as questões centrais não estarão resolvidas."
Mantega, que na quinta-feira vai se reunir com seus colegas da China, Índia, Rússia e África do Sul, disse que os países do Brics podem complementar os esforços europeus com financiamento ou compra de bônus do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef). Segundo o ministro, o Brasil e outros emergentes também podem fornecer ajuda financeira se o Feef começar a vender grandes quantidades de bônus.
"Acreditamos que os países europeus podem fazer mais de seu lado do que estão fazendo atualmente", disse. "Naturalmente, os Brics e outros países emergentes podem participar da reconstrução do sistema financeiro e da recuperação da confiança."
Na semana passada, depois de informes de que a China estava preparando a compra de bônus da Itália, Mantega anunciou que os Brics se reuniriam antes dos encontros com os países do G-20 em Washington, nesta semana, para discutir formas de ajudar a recuperação da Europa.
Os comentários de ontem do ministro indicam que os esforços dos Brics estão nos estágios iniciais e dependem de ação significativa das autoridades europeias. Mantega negou informes de que o Brasil planejava usar US$ 10 bilhões de recursos próprios para ajudar a zona do euro, embora tenha admitido que o Banco Central brasileiro pode ter comprado bônus do Feef, mas apenas para diversificar as reservas estrangeiras, e não como parte de iniciativa de ajuda.
O ministro também disse não acreditar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) necessite de mais capital para combater o aprofundamento da crise na Europa. Segundo ele, o dinheiro injetado no organismo em 2008 já seria suficiente para que o FMI atue para debelar a crise.
Sobre o País, o ministro da Fazenda disse que o panorama inflacionário é "mais benigno" em 2011 do que em 2010. Segundo ele, o índice de preços ao consumidor avançou em ritmo mais acelerado que o esperado até a metade de setembro, com o IPCA-15 subindo 7,33% nos últimos 12 meses, de acordo com dados divulgados hoje.
A pressão inflacionária tem sido vista por analistas como o maior risco para a economia brasileira. Mantega destacou que, entre os Brics, o País é o único com juro real positivo. Em agosto, o BC surpreendeu ao cortar a Selic de 12,5% para 12%, em parte para conter a demanda pelo real. "O Brasil adotou medidas defensivas de política cambial porque foi forçado a fazê-lo."
O ministro afirmou ainda que o Brasil não seguirá os passos de países como a Suíça, que recentemente estabeleceu um nível específico para a valorização do franco, mas comentou que medidas assim podem parecer sedutoras à primeira vista. "Eu rezo todas as noites para não cair nessa tentação", brincou Mantega. As informações são da Dow Jones.